Uma empresa multinacional deveria contratar fornecedores do local onde atua, para atender sua responsabilidade social, pelo fato deles serem locais? Uma empresa multinacional que tem acesso às melhores tecnologias do mundo e aos melhores fornecedores deveria contratar fornecedores locais pelo fato deles serem locais?
Certamente essa dúvida passou pela cabeça dos dirigentes das grandes empresas que se instalaram no Espírito Santo no século passado, confrontadas com a ausência de fornecedores de qualidade na região nessa época.
Por outro lado, é sempre bom ter fornecedores próximos, mais rápidos e mais baratos no atendimento e capazes de formar uma rede de proteção junto à opinião pública. Se colocar como um enclave na sociedade, sem uma cadeia de fornecimento local de serviços e empregos, possibilita a propagação de uma antipatia que pode se refletir em conflitos onerosos com a população e o poder público local.
A solução para esse dilema foi encontrada com o apoio ao desenvolvimento de fornecedores locais, para que pudessem atingir a qualidade que atendesse aos critérios naturalmente exigidos por grandes empresas.
E como surgem do nada essas empresas, possíveis fornecedores locais? Surgem, muitas vezes, formadas por ex-funcionários capacitados, familiarizados com a operação e com espírito empreendedor, contratados como pessoa jurídica após privatizações ou por incentivo das empresas.
Dois importantes programas de apoio ajudaram no processo: o PDF, Programa de Desenvolvimento de Fornecedores, atuando fortemente na direção das grandes empresas para abrir seus processos de compra e permitir o acesso de fornecedores locais e o Prodfor, certificando empresas em processos de qualidade, por onde já passaram mais de 750 empresas locais até o momento. No apoio institucional desse movimento vários sindicatos ligados à Federação das Indústrias – Findes, em especial o Sindifer, e mais o IEL – Instituto Osvaldo Lodi, o Cdmec – Centro Capixaba de Desenvolvimento Metalmecânico, o Sebrae e a Câmara Setorial das Indústrias de Base.
Esse grande movimento, iniciado em 1995, possibilitou a criação de uma rede de fornecedores com vários desdobramentos positivos. Quando um fornecedor consegue passar pelos critérios rigorosos de uma grande empresa, significa que ele aprendeu a operar não só com qualidade técnica, mas também aprendeu a se relacionar comercialmente e passa a evoluir em todo o seu processo de gestão. Consegue ganhar novos clientes de grande porte como aconteceu de fato com muitas delas. Porém, se não mantiver a qualidade, a produtividade e a competitividade, vai perder espaço e contratos. A grande empresa não vai sustentar fornecedores pelo simples fato de serem locais.
A dimensão da rede de fornecedores locais criou um volume de negócios no Estado que incentivou empresários e instituições a formar uma incipiente, na época, Feira da Inovação Industrial – Mec Show que chega em 2023, com sua 16ª edição, como uma das cinco maiores do Brasil, com 300 empresas participantes e um movimento de mais de 18.000 pessoas nos três dias de evento. Muitas das empresas expositoras trazem no DNA aquelas iniciativas pioneiras e seus empreendedores, marcando o sucesso espetacular desse movimento que leva muitas delas a atuar no país inteiro, crescendo sempre em inovação e competência.
https://es360.com.br/coluna-inovacao/post/o-show-da-metal-mecanica/
Publicado no Portal ES360 em 20/08/2023