Planejamento: Tudo o que se vê não é igual ao que a gente viu há um segundo

Por Evandro Milet – Portal ES360 em 10/12/2023

Mike Tyson em alusão à estratégia de seus oponentes antes da luta: “Todo mundo tem um plano até levar um direto na boca”. Não precisa exagerar, nem comparar com planejamento de empresas, mas está mesmo difícil fazer planejamento. Tudo o que se vê não é igual ao que a gente viu há um segundo. Tudo muda o tempo todo no mundo. Lulu Santos já sabia. Tudo que é sólido desmancha no ar, diria aquela dupla de filósofos. Quando somamos a pandemia com as mudanças tecnológicas, a mudança climática, o movimento pela diversidade e a geopolítica, a velocidade fica alucinante. 
O ecommerce, acelerado pela pandemia, provocou terremotos no varejo e o tsunami continua a varrer o comércio, trazendo os sites chineses que souberam surfar na onda. Empresas tentam trazer de volta os empregados para os escritórios, em vão. Os bons bancam o home office e não voltam. Nômades digitais carregam seus laptops mundo afora. Todo mundo aprendeu a fazer reuniões virtuais e a insanidade de longas viagens para reuniões curtas já era. 
Mudou o dress code. Gravatas e ternos evaporaram. O tênis venceu. A informalidade e a descontração se espalharam. Trabalhar de bermuda? Claro. A diversidade agora permite tudo. Tudo bem, quase tudo. Na pré-história empresarial do século passado, empresas exigiam terno, cabelo cortado, barba feita, vestido arrumado, principalmente para quem atendia clientes. Hoje vale tudo: cabelo Milei, colorido, brinco masculino, tatuagem de jogador de futebol. 

Modelos tinham o corpo escultural nas vitrines. Hoje vale toda forma de corpo e todas as cores nas vitrines. Afinal, essa é a realidade do mundo que quer comprar o que está exposto. Não cabe mais também contratar pela aparência, conceito subjetivo e discriminatório.

Cinquenta anos atrás, Milton Friedman, ganhador do Prêmio Nobel em ciências econômicas, cunhou esta frase em uma entrevista para a revista Time nos Estados Unidos: “O único propósito de uma empresa é gerar lucro para os acionistas”. Não mais. 

A sigla ESG se espalhou, apesar de muita gente ainda resistir, achando que é um movimento de esquerda. Seria, se tivesse vindo de Cuba ou da Coreia do Norte. Na realidade veio  captado pelo mundo financeiro e pelas grandes empresas capitalistas. Quando a Magalu fez, há muitos poucos anos, uma seleção de trainees para negros, foi uma comoção em muitos setores. Nas mídias sociais, Luiza Trajano virou comunista. O movimento, porém, se espalhou pelo mundo e pelo Brasil criando uma nova realidade para as empresas e para a sociedade. Mas há reações a esse movimento, principalmente nos EUA, em estados governados por republicanos.

O negacionismo das mudanças climáticas está se reduzindo à medida que a temperatura aumenta, criando novos produtos, novos mercados e novo consumo. Fontes de energia são questionadas criando novos fornecedores.

A globalização, que tinha sido abalada pela pandemia ao se perceber a dependência do mundo a alguns países quanto aos insumos de saúde, levou novo choque com a geopolítica confrontando blocos e países e o protecionismo e as políticas industriais voltaram. 

As mudanças tecnológicas não param. A inteligência artificial entrou definitivamente na realidade das empresas e dos empregos. Grandes empresas aceitam abrir as portas para o empreendedorismo das startups. A universidade é questionada. Os cursos não atendem a necessidade do mercado em mutação. Os novos profissionais no mercado querem trabalhar em empresas com propósito ou empreender o seu próprio negócio.

E como fica o planejamento? A chave para gerenciar uma estratégia é a habilidade para se detectar padrões emergentes e auxiliá-los a tomar forma, diz Henry Mintzberg, guru tradicional do tema. O importante é estar antenado com o que está acontecendo e rapidamente ajustar as velas. Ameaças e oportunidades mudam a toda hora. Não existe mais planejamento de longo prazo. 

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