Neoindustrialização capixaba: quem sabe faz a hora

Durante muitos anos o tema política industrial foi criticado por economistas liberais com argumentos que até faziam sentido no Brasil, como a tendência de captura de políticas por grupos de interesse, o baixo incentivo às inovações pelo excesso de protecionismo, o uso de recursos do tesouro para subsídios, a escolha de campeões nacionais ou a dificuldade de parar os projetos que não funcionaram(benesses provisórias sempre viram permanentes).

Tudo mudou agora, inclusive em artigos recentes desses economistas, motivado pela crescente aceitação dessas políticas no mundo. O crescimento vertiginoso da China, os atritos da geopolítica, a constatação da excessiva concentração de alguns insumos em alguns países, o recuo da globalização generalizada e as oportunidades provocadas pela mudança climática lançaram também o mundo ocidental em um cavalo de pau para políticas industriais ostensivas.

No Brasil, a expressão neoindustrialização pretende trazer uma política industrial repaginada, sem os vícios do passado, agora reinterpretando o sucesso alcançado não só pela China, como também por diversos outros países da Ásia e incluindo os novos temas em pauta.

Com esse olhar aberto sobre política industrial para o que acontece no mundo e no Brasil, cabe olhar para o estado e aproveitar as oportunidades e, sempre que possível, até antecipar tendências.

Uma bela oportunidade acontece no oportuno plano estratégico “ES 500 anos” do governo do estado com a ONG Espírito Santo em Ação, com o horizonte de 2035, que marca os 500 anos de colonização do solo espírito-santense. Trata-se de uma atualização dos anteriores ES 2025 e ES 2030, introduzindo os temas modernos associados às agendas ESG e inovação.

Um Plano Estadual de Descarbonização, atualmente em consulta pública, coloca o Espírito Santo em posição avançada na temática “Mudanças climáticas”. Não há mais dúvidas que o assunto presidirá grande parte das próximas discussões sobre localização de empresas, negociações entre contratantes e fornecedores, comércio internacional, investimentos e financiamentos. Os países, estados e empresas que estiverem alinhados e em dia com as práticas preconizadas certamente levarão vantagem. A disseminação no ES do uso de energia solar, eólica, biocombustíveis e hidrogênio, como preconizada no Plano, traz muitas oportunidades industriais para equipamentos em energias limpas, com possibilidade de atração de empresas ou aproveitamento por empresas locais.

Além dos aspectos ambientais e energia, outras oportunidades para a indústria de transformação, bem como para outros setores da economia, estão no ar em discussões nacionais em saneamento, saúde, concessões, portos, agronegócio, logística, no mundo digital e em previsíveis novos investimentos das grandes plantas de commodities.

Um plano estratégico como o “ES 500 anos”, com um Plano Estadual de Descarbonização de partida inicial, traz a atenção de todos para focar, juntar informações dispersas, disseminar ideias inovadoras, se apresentar bem no mercado nacional e internacional e ampliar possibilidades para quem estiver preparado. Afinal. já dizia a canção: quem sabe faz a hora, não espera acontecer. A neoindustrialização pode ser grande oportunidade para o Espírito Santo. 

Publicado no portal ES360 em 14/01/2024