Inteligência artificial não é para técnicos

Em 1943, Thomas Watson, presidente da IBM, afirmou que haveria no mundo, no máximo, mercado para cinco computadores. Darryl F. Zanuck é um dos maiores produtores de cinema de todos os tempos. Em 1946 ele afirmou: “A televisão não vai criar seu espaço no mercado e as pessoas logo vão se cansar de ficar olhando para uma tela toda noite”.

O Oscar de previsão furada, porém, é de um colunista da Newsweek chamado Clifford Stoll. Em 1995, ele publicou um artigo chamado “A Internet? Bah!”. Ele conseguiu pegar todas as tecnologias e serviços nascentes e detonar, com previsões e mais previsões de coisas que nunca iriam funcionar. Sumarizando:

  • Nenhuma rede de computadores vai mudar a forma com que governos funcionam
  • Bancos de dados online não substituirão jornais
  • Todo mundo podendo se expressar só gerará ruído e ninguém será ouvido
  • Ler em um computador é horrível e (sic) você não pode levar um laptop para a praia
  • Ninguém vai comprar livros e jornais pela internet
  • É muito trabalhoso procurar informações na World Wide Web
  • Ninguém vai usar a Internet para acessar informações governamentais, como relatórios e projetos
  • Computadores e internet não ajudam em nada estudantes
  • Não há uma forma segura de enviar dinheiro pela Internet, e ninguém quer comprar online, as pessoas gostam de interagir com vendedores de carne e osso
  • Comunidades virtuais? Bah
  • Ninguém vai trocar um concerto ao vivo por uma experiência multimídia interativa
  • Cybersexo? Ninguém quer isso, todo mundo vai preferir a coisa real.

Na década de 1990, nos primórdios da internet, também havia a interpretação que a rede seria um instrumento para pesquisa e desenvolvimento,  não para atividades comerciais.

O fato é que as tecnologias disruptivas, como foram o computador, a internet, o iphone e as redes sociais, como anteriormente foram a eletricidade e o automóvel, não podem ser observadas pela ótica técnica e do mundo no momento. Elas trazem profundas mudanças sociais e empresariais, quase impossíveis de prever.

A sua utilização inicial, muitas vezes fica restrita aos técnicos do setor, com uma visão de aproveitamento limitado que vai mudando à medida que se espalha, pela criatividade dos empreendedores e pelo uso prático das pessoas e das empresas.

Estamos diante de uma nova situação como essas com o desenvolvimento da inteligência artificial, principalmente depois do ChatGPT e toda a avalanche de novidades que se seguiram. Negacionistas tecnológicos tentam colocar freios na imaginação, como quem tenta apagar fogo morro acima ou segurar água morro abaixo.

O fato é que não é possível errar novamente, deixando na mão de técnicos a decisão estratégica da utilização dessa ferramenta que não é mais apenas sobre inovação, mas sobre a sobrevivência das empresas, como alertou recentemente o reconhecido guru tecnológico Sílvio Meira, no seu artigo para o Brazil Journal aqui. Empresários, CEOs, investidores: assumam o comando.

Parafraseando o presidente francês George Clemenceau quando afirmou que a guerra é uma coisa demasiada grave para ser confiada aos militares, assim também a IA em relação aos técnicos.

https://es360.com.br/coluna-inovacao/inteligencia-artificial-nao-e-para-tecnicos

Publicado no Portal ES360 em 24/03/2024