Viva a democracia

Na década de 1960 boa parte da juventude universitária e secundarista foi arrebatada, em seus ideais de justiça social e nacionalismo, por um movimento glamourizado pela tomada do poder por Fidel Castro e Che Guevara em Cuba em 1959. Era a ilusão de um movimento de massas revolucionário e transformador. A ditadura militar inibia manifestações políticas, mesmo pela volta da democracia e o Congresso Nacional fora desfigurado pelas cassações. O caminho de participação se restringia aos partidos e grupos de esquerda organizados clandestinamente, boa parte deles já empurrados para a guerrilha urbana e até para a guerrilha à la Sierra Maestra. Passeatas eram reprimidas violentamente, universidades invadidas e, depois de 1968, com o AI-5, a tortura, os desaparecimentos políticos e a censura cresceram fortemente.

Hoje é difícil explicar a quem não viveu a ditadura, como era o clima da época, e difícil explicar as atitudes radicais como ações armadas, guerrilhas e sequestros de embaixadores.

Mas a luta não era pela democracia. A não ser pelo PCB, o Partidão, depois de determinada época, a luta visava a implantação de uma ditadura do proletariado e do socialismo, etapa para o comunismo. A democracia formal era desprezada como democracia burguesa. Em 1964, Che Guevara, na Assembleia Geral da ONU dizia: “Fuzilamos sim e vamos continuar fuzilando.”, o que retrata bem o clima da época e o tipo de ação sanguinária que era aceita nesse meio.

Paredons, revoluções culturais, coletivização da agricultura, expurgos stalinistas ou ditaduras – à esquerda ou à direita – não são mais aceitos. Agora, 50 anos depois, pacificados por uma anistia que ficou devendo o destino de corpos desaparecidos de um dos lados, temos uma democracia incipiente, ainda socialmente injusta, mas com instituições que se aperfeiçoam com eleições livres, liberdade de imprensa, de ir e vir, de reunião, de organização, de manifestação e partidos de todas as tendências.

Soa portanto ridícula a reiterada tentativa de alguns desmemoriados de má-fé que tentam comparar qualquer situação atual de preservação da ordem com a ditadura militar. A liberdade de manifestação em países civilizados não tolera a restrição ao direito de ir e vir, nem a ocupação irresponsável de prédios públicos ou destruição de propriedade pública ou privada. Quem viveu aquele passado tem a certeza – apesar das turbulências – que tudo está muito melhor hoje, quando a foice e o martelo, simbolizando camponeses e operários, deveriam ser substituídos por uma colheitadeira computadorizada e um robô com inteligência artificial.

 

Sobre o autor:

Evandro Milet é consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente sobre inovação e negócios.

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