O economista David Kupfer, em artigo no jornal Valor Econômico , fez referência às mudanças introduzidas no 12º Plano Quinquenal (2011-2015) ora em vigor na China, onde a ênfase muda do “made in China” para “made by China”. Isto quer dizer capacidade de projeto, engenharia, tecnologia e marcas nacionais. As discussões hoje sobre desindustrialização e políticas industriais têm enfatizado a necessidade de participação da indústria brasileira nas cadeias globais de produção para estimular a competitividade e a produtividade. A participação em cadeias globais pode se dar de dois modos: dominando o projeto e comandando a cadeia como uma Embraer , por exemplo, ou participando como fornecedor. Claro que, no primeiro caso, há um domínio do processo e uma liberdade para escolher fornecedores e administrar margens e novos lançamentos. Vários economistas porém, embora sempre manifestem orgulho pela Embraer nunca recomendam tentar repetir o modelo como se isso fosse impossível ou contra a teoria vigente. Porque temos tantas fábricas de automóveis no Brasil e nenhuma marca nacional como o Japão, Coréia e China? Porque também na área de eletrônica não conseguimos ter marcas nacionais? A grande oportunidade dos investimentos em petróleo e gás nos próximos anos nos trazem a realidade de que não temos engenharia capaz de projetar FPSOs, sondas de perfuração, barcos de apoio e demais equipamentos necessários. Alguns dizem que basta fabricar no Brasil e empregar brasileiros. Mas existe uma diferença fundamental, constantemente negligenciada na análise e mesmo até recentemente desconsiderada pelo Bndes: quem domina o projeto de engenharia especifica as normas e os sistemas a serem utilizados e com isso amarra toda a cadeia de fornecimento. Os 400 bilhões de dólares a serem investidos até 2020 na cadeia de petróleo e gás é a grande oportunidade de uma indústria “made by Brasil”. É muito pouco para o Brasil, com seu parque industrial diversificado, tomar como referência de desenvolvimento países pequenos como Chile ou Peru que só podem participar das cadeias como fornecedores. Podemos e devemos desenvolver a engenharia nacional. No mundo globalizado quem não é consolidador é consolidado e, como diz Kupfer, é ilusório e até mesmo ingênuo imaginar que essas grandes operações de consolidação empresarial possam se dar totalmente à revelia do interesse nacional. Significaria imaginar uma economia política sem nações e sem nacionalismo, da qual o mundo não só se mantém muito distante como claramente sequer está se aproximando.
Sobre o autor: Evandro Milet é consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente sobre inovação e negócios.
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