Vale a briga

Três bilhões de reais é o investimento que pode provocar uma transformação radical no sul do Espírito Santo. Novos negócios, indústrias, milhares de empregos, volume imenso de impostos, novos serviços para a população da região. Apesar disso tudo, o projeto estruturante do Porto Central permanece dependendo de decisões dispersas que esbarram ora em licenças ambientais intermináveis, ora em falta de visão de conjunto no âmbito federal e ora em percepções equivocadas de óbvios parceiros privados. Imagine-se a paciência do sócio estrangeiro, no caso o Porto de Roterdam, ao enfrentar dificuldades surreais e inimagináveis no seu país.

A decisão de fazer o trecho de ferrovia até Anchieta, como parte da compensação pela extensão do contrato da Vitória Minas com a Vale, permanece escorregadia. Ora vai acontecer na palavra de um ministro, ora não está certa na palavra de uma agência.

A extensão até o Porto Central é mais ensaboada ainda. O projeto que a Vale faria até o Rio, se passar pela retroárea do Porto, abrirá inúmeras oportunidades para o próprio grupo Vale/VLI, no transporte de carga geral, em alternativas de fornecimento de gás e de ampliação do transporte de minério.

Mas há outros óbices. A oportunidade próxima seria a utilização do Porto para atender o mercado de petróleo e gás, que dobrará de tamanho nos próximos anos. Açu conseguiu levar o terminal da Edison Chouest que seria aqui no estado e assinou um grande contrato de longo prazo de transbordo ship-to-ship, necessário para retirar óleo das plataformas. Essa operação, muito delicada do ponto de vista ambiental, é feita também em alto mar, unindo dois navios de tamanhos muito diferentes, amarrados um no outro. Qualquer incidente ambiental nesse processo vai ensejar uma reação violenta de órgãos e ongs e inviabilizar futuras operações. O Porto Central seria uma ótima e segura alternativa para realização em área abrigada e criando ambiente replicado com Açu, dando conforto à Petrobras. Um compromisso de longo prazo da Petrobras com o Porto Central seria um gol de placa para viabilizar o Projeto. Com a operação garantida em petróleo e com contratos menores já apalavrados com outras petroleiras, o Porto se expandiria naturalmente com novos terminais diversificados viabilizados pela infraestrutura comum então construída.

Para sacramentar esse projeto estruturante, tirar as dúvidas que pairam no ar e comprometer os atores, seria recomendável que o Estado organizasse um seminário com todos os envolvidos e que assinassem um documento de compromisso. Nada como uma boa pressão por uma boa causa.

Sobre o autor: Evandro Milet é consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente sobre inovação e negócios.

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