A pandemia fez explodir o ecommerce, uma atividade inteiramente digital na sua relação com o cliente, mas que, no Brasil, encontrou uma logística de 175.000 transportadoras de carga fracionada com ambiente digital defasado e quase analógico.
Em 2015, pouco antes da pandemia, surge, de um município improvável, Baixo Guandu, uma startup para conectar os dois mundos. Improvável, não por falta de mérito e competência dos seus moradores, mas pelo hábito de pensarmos que startups só se criam em grandes centros.
A história da Frete Rápido é interessante pelo local de nascimento, o modelo de negócio e a dimensão que tomou, hoje o maior hub de logística da América Latina, tendo transacionado mais de 2,5 bilhões de reais em 3 dias de Black Friday, operando para grandes empresas do Brasil inteiro como Nestlé, Drogarias Pacheco, Asus, GM, Lojas Simonetti e ArcelorMittal, entre outras, diretamente de Baixo Guandu, via nuvem.
O fundador, Mário Rodrigues, partiu da observação de um processo nada eficiente de um cliente da sua carteira de representante comercial. As etapas para preparar uma encomenda em uma fábrica de roupas consistiam em medir tamanho de caixa, mandar emails para transportadoras pedindo cotação de preço e calcular frete na mão, tarefa pouco produtiva. Ele logo imaginou, por analogia, algo como o Buscapé para escolher automaticamente a melhor opção.
As primeiras tentativas, em 2007, não deram certo, deixando um rastro de dívidas, mas a resiliência do empreendedor fez a ideia ressuscitar alguns anos depois.
Com o programa de inovação Tecnova da Fapes e Finep, conseguiu um apoio de subvenção econômica de 320.000 reais para começar o projeto – um exemplo da importância desses programas para o ecossistema de inovação – e conseguiu entrar no programa de scale-ups da Endeavor.
A solução de software ficou extremamente versátil e prática. A Drogarias Pacheco, por exemplo, costumava distribuir os produtos a partir de um único CD(Centro de Distribuição) e hoje consegue otimizar o processo distribuindo de qualquer das mais de 500 lojas, em multiorigem, evitando passeios de cargas e se adaptando a circunstâncias logísticas de cada região e comerciais de cada loja. Até o tamanho ótimo de embalagem entra no cálculo.
Um problema enfrentado foi o preconceito sobre o local de endereço da empresa. Baixo o quê? Gandu? No Espírito Santo? Ah! sim, nordeste. Porém, a pandemia provocou uma mudança geral no país. O medo da propagação do vírus levou muita gente a se mudar para o interior, longe das grandes cidades e aglomerações e de repente, o interior ficou charmoso, cool. As perguntas mudaram de tom. Vocês conseguiram se mudar para o interior? Não, nascemos aqui.
Contratação de pessoal passou a ser um problema geral das empresas de tecnologia e aqui não é diferente. Das pouco mais de 60 pessoas da empresa, metade está espalhada, em home office, por todas as regiões do país, contratadas e administradas a partir do escritório de São Paulo.
Há pouco tempo, a Frete Rápido recebeu o segundo maior valor de Série A de investimento em logtechs( startups de logística). Ecommerce no Brasil ainda participa com apenas 11% do varejo, o que sinaliza a possibilidade imensa de crescimento, que inclui o objetivo de internacionalização da empresa. Um grande fundo de atuação internacional investiu na empresa e em outras do ramo e parte agora para abertura de capital na Nasdaq, com exigências ainda maiores que a Bovespa. As empresas investidas devem estar alinhadas com os padrões ESG e adeptas do Pacto Global e dos ODS da ONU.
Por fim, a filosofia master do fundador: o primeiro cliente você vai ter, se fizer um bom trabalho; use o primeiro cliente muito bem e vai conseguir o segundo; use os dois primeiros muito bem e vai conseguir o terceiro e assim por diante.
Uma lição de empreendedorismo, de Baixo Guandu, interior do Espírito Santo, região Sudeste, para o mundo.
https://es360.com.br/tecnologia-e-o-charme-do-interior/
Publicado em 19/12/2022 no Portal ES360