Empresários muitas vezes dormem pouco, preocupados com a folha de pagamento. Empreendedores de startups também se preocupam com a folha, mas também dormem pouco por causa dos investidores. E agora todos os empreendedores na área de TI dormem pouco porque perdem técnicos e não conseguem repor.
A onda de venture capital que tomou conta do país, trouxe para o mundo das startups investidores sem a informação adequada sobre esse mundo. A disseminação de informações sobre unicórnios e ganhos milionários espalharam a falsa ideia de retornos fantásticos seguros. Não é bem assim, aliás, não é assim de jeito nenhum.
Uma das dificuldades entre empreendedores e investidores é entender a linguagem e o pensamento do outro. Investidores se assustam quando a empresa está queimando caixa, porém se a startup não queimar caixa para andar rápido pode perder a oportunidade de escalar.
Startup é um modelo de negócio em evolução. Nenhuma startup resiste intacta ao primeiro contato com clientes. É comum a empresa começar com uma ideia e pivotar no meio do caminho até se ajustar ao que o mercado quer, o tal market fit.
Como grande parte das startups é lançada pelo pessoal mais novo, sem muita experiência de vida, os projetos miram o mundo restrito que eles conhecem e as poucas dores do mercado que eles são capazes de perceber. Desse público é difícil sair uma startup para um ambiente mais complexo. Daí a importância do movimento crescente de grandes empresas praticando inovação aberta, lançando desafios para dores difíceis de perceber fora das suas instalações.
Grandes empresas oferecem o pacote completo necessário para uma startup: dores, dados e escala, diz Jardel Ferreira, coordenador da rede de inovação digital no programa iNO.VC da Arcelor Mittal em evento recente da Fluyd. Muitas vezes as grandes empresas são consideradas antiquadas e avessas às inovações. Não é o caso, porém de muitas delas que investem pesado em inovações. Por exemplo, Jardel completa que a Arcelor é uma Disneylândia para as startups desenvolverem seus projetos em parceria, tantas são as inovações e tecnologias implantadas em todas as áreas.
Grandes empresas têm outros tipos de problema para introduzir o modelo de startups na sua gestão. Gostariam de ter a agilidade das startups, mas os processos burocráticos normais são pesados, exigências da governança de empresas listadas em bolsa ou necessidade de controle mesmo. Para adotar parcerias com startups é necessário mudar procedimentos internos, quebrar hierarquias rígidas que impedem comunicação direta entre pessoas sem percorrer verticalmente toda a estrutura, contornar ciúmes das equipes organizadas em projetos articulados pelos labs internos de inovação e aceitar expor dores que poderiam ser entendidas como incompetência.
E o mundo das startups cresce vertiginosamente. Investimentos (nacionais e estrangeiros) em nossas startups saltaram de US$ 2,7 bilhões, em 2019, para o recorde de US$ 9,4 bilhões em 2021.
Agora o Espírito Santo pode turbinar o ecossistema de inovação com o novo FIP de 250 milhões de reais do fundo soberano. As possibilidades de retorno para o Estado são ótimas. Será necessário investir em muitas empresas, apostar muito, mas imaginem se esse fundo de 50 milhões de dólares gerar pelo menos um unicórnio capixaba com valor de 1 bilhão de dólares. Pelo retorno financeiro, repercussão e exemplo não terá havido melhor investimento para o estado.
https://www.agazeta.com.br/colunas/evandro-milet/startups-tiram-o-sono-mas-podem-trazer-muita-alegria-0422
Publicado em 02/04/2022 em A Gazeta