Show de bola

O futebol está tão enraizado na cultura brasileira que as expressões típicas do jogo são usadas corriqueiramente dentro da linguagem do dia a dia e tornam mais vivas as imagens que se quer passar. Na política isso é comum. Um dia é um ministro do Supremo que mata no peito. Assim como fazem laranjas e tesoureiros quando dão cobertura para o companheiro. Outro dia é uma figura pública que joga para a plateia. Candidatos entram de sola, mostrando as travas da chuteira ou chutam de bico, da canela para cima. Uns levam cartão vermelho e nas eleições seguintes, não são escalados ou batem na trave e não entram. Torcidas organizadas nas redes sociais marcam em cima, por pressão, fungando no cangote. Quem não tem jogo de cintura, bobeou leva um carrinho por trás e fica fora do jogo. Vale tudo, cotovelada para abrir espaço, canelada para tirar o adversário do jogo e até mala preta. Muita gente fica de bobeira e leva bola nas costas. Tem os versáteis que batem escanteio e correm para cabecear e os carregadores de piano que levam o time nas costas. Tem os que furam na hora H e deixam a bola quicando para o adversário marcar e correr para o abraço. Há quem tire de letra situações complicadas, outros são craques, jogam uma bola redonda, batem um bolão e fazem gol de placa. Tem político que é bom de assistência e deixa a bola na cara do gol, redondinha, para o colega faturar. Há os que são bons de tabelinha, jogam por música, de ouvido. E há a turma dos pernas de pau, que devolvem bola quadrada, entregam o jogo, apanham da bola, perdem gol feito ou fazem gol contra. Alguns enfeitam a jogada, ciscam de um lado para o outro, mas esquecem de combinar com os russos. Há os que levam gol por baixo das pernas como qualquer frangueiro – combinado ou não. E tem – claro – o juiz ladrão, em campo ou em algum tribunal, que inverte falta, inventa pênalti, valida gol de mão ou apita perigo de gol e mata a jogada. Muitas vezes tem jogo duro, embolado no meio de campo,  retrancado e que acaba no zero a zero. Nessa altura do campeonato, os experientes amarram o jogo, catimbam, fazem cera, seja para cumprir tabela ou levar para a prorrogação e só resolvem aos 45 do segundo tempo. No final porém, quem manda é o dirigente que compra jogadores por baixo do pano, negocia patrocínio, some com a renda da partida, paga bicho gordo quando o time ganha e, se perder, tenta ganhar no tapetão.

Mas a política, como o futebol, é uma caixinha de surpresas e coisas inexplicáveis ficam por conta do Sobrenatural de Almeida, personagem memorável de Nelson Rodrigues, maior cronista do futebol.

Sobre o autor: Evandro Milet é consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente sobre inovação e negócios.

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