O povo brasileiro está acostumado a conviver com pepinos e abacaxis, a comer o pão que o diabo amassou e tem que segurar uma batata quente toda hora.
Muita gente está vendendo o almoço para pagar a janta, enquanto o Governo empurra com a barriga, levando o povo em banho-maria, achando que pimenta nos olhos dos outros é refresco.
Inventou uma jabuticaba, a tal Nova Matriz Econômica, e esqueceu da frase de Milton Fridman: “Não existe almoço grátis”. Deixou as reformas para depois, com medo da repercussão e esqueceu Millor Fernandes: “Não se faz omelete sem chutar os ovos” e tentou um atalho na economia, esquecendo que o apressado come cru.
Os companheiros, que nunca tinham comido melado, se lambuzaram até o momento que o Governo se embananou e teve que colocar as barbas de molho. Quem antes comia ovo e arrotava caviar agora sente o tamanho do pepino. A popularidade despencou, mostrando que a rapadura é doce mas não é mole não.
Vieram os panelaços – criticados como se viessem só das varandas gourmet – e quando todo mundo achava que tudo acabaria em pizza, figurões e laranjas, acostumados com pouca farinha meu pirão primeiro, começaram a pegar uma cana braba. Lembrando Guimarães Rosa: “Deus come escondido, e o Diabo sai por toda a parte lambendo o prato.”
A Presidente faz regime e começa – ou continua – a falar abobrinha, enchendo linguiça, tentando cozinhar a crise em fogo brando, enquanto o bolo da economia vai desandando rápido.
Estamos fritos. A parte da população que tinha deixado de comer osso e estava provando picanha volta para a marmita pensando em rabada(ui!). Quem dava um boi para não entrar em uma briga hoje briga por um bife.
A gente não quer só comida, a gente quer saída para qualquer parte, cantam os Titãs.
A situação está mais feia que cão chupando manga e o Congresso não ajuda. Como disse Bismarck, unificador da Alemanha: “Quanto menos as pessoas souberem como se fazem as leis e as salsichas, melhor dormirão à noite”. O judiciário não faz por menos e quer aumento nas mordomias, incluindo o auxílio-alimentação.
Lula, que está com sua batata assando, chora pelo leite derramado e cospe no prato que comeu, mas reconhece que está com o volume morto, o que não combina com o tubérculo de duplo sentido que a Presidente colocou na mesa. A fala de Lula faz lembrar Nelson Rodrigues: ” Toda autocrítica tem a imodéstia de um necrológio redigido pelo próprio defunto”.
Enfim, o milagre avinagrou, a conta está cada vez mais salgada para o povo, e no meio dessa crise gastronômica, só nos resta saudar a mandioca. E que ela seja pequena. Eta nóis!
Evandro Milet
Consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente aos domingos
Twitter: @ebmilet Email: evandro.milet@gmail.com