Taxistas ou motoristas de automóveis engarrafados no trânsito têm soluções prontas que apontam sempre para novos viadutos, alargamento de pistas ou redução de calçadas. Esse raciocínio não tem fim. Mais facilidades para os carros incentivam novos usuários que rapidamente ocuparão as novas vias, como o exemplo do fim do pedágio da terceira ponte que provocou engarrafamentos muito piores que antes.
No Brasil já somos mais de 80% nas regiões urbanas. A vida nas cidades passou a ser um tema fundamental e mobilidade foi um dos motivos principais das manifestações de rua em 2013.
Três movimentos para solucionar os problemas de mobilidade estão hoje na pauta. O primeiro está refletido no mantra disseminado pelo ex-prefeito de Bogotá Enrique Peñalosa: “Cidade boa não é a aquela onde os pobres andam de carro, mas aquelas onde os ricos usam transporte público”.
O segundo movimento vem dos planejadores urbanos, defendendo a visão de cidades onde as pessoas possam morar, trabalhar e se divertir no mesmo espaço próximo, se locomovendo a pé, de bicicleta ou de transporte público.
O terceiro movimento fala em cidades inteligentes, com a redução de deslocamentos, onde as tecnologias digitais permitirão que mais pessoas trabalhem em casa e acessem serviços públicos e privados pela internet, como já fazem com o comércio eletrônico e os serviços bancários.
As ciclovias antes limitadas para momentos de lazer já são usadas em 25% dos deslocamentos em Tóquio e na Holanda e tem seu uso aumentado visivelmente no Rio e em São Paulo, embora apenas 7,4% dos deslocamentos sejam feitos em bicicleta no Brasil.
O uso da bicicleta exige um novo ecossistema, onde serão necessários bicicletários, vestiários e integração com o transporte público, com a possibilidade de transporte das bicicletas em trens, metrôs e ônibus. As ciclovias deverão ser expandidas e campanhas terão de preparar todos para respeitar esse novo meio de transporte. Copenhagen já tem inclusive uma ciclovia suspensa exclusiva e Londres terá a sua em breve, consolidando definitivamente essa nova forma de locomoção.
Enquanto isso no Brasil, em 2013, a redução do IPI para automóveis e o subsídio da gasolina somaram R$ 19,38 bilhões, quase o dobro do que foi investido em transporte coletivo e mais que os R$ 14,38 bilhões previstos para obras da Copa do Mundo. Além de não existir subsídio para a compra de bicicletas.
Há uma mudança de paradigma em curso e o Governo Federal não pode ter atitudes contraditórias enchendo as ruas de automóveis com crédito e subsídios enquanto faz discurso pela mobilidade.