Produtores de commodities também são capazes de inovar: o caso Suzano

Recentemente, a Dynamo, uma das gestoras mais respeitadas do Brasil, abordou, em suas cartas mensais para investidores, a evolução da Suzano, empresa onde investe com seus fundos de ações. A publicação aborda várias atividades, porém um dos pontos positivos da empresa é o DNA de pesquisa e inovação, a partir do qual se estabelece uma plataforma de rotas tecnológicas promissoras. 

Hoje, a Suzano é a maior produtora mundial de celulose do mercado com sete plantas no país e 1,3 milhão de hectares de florestas plantadas e certificadas.

A empresa é a primeira a produzir em escala comercial papel 100% à base de celulose de eucalipto. Além disso, inovou em vários produtos: primeira fabricante do mundo a produzir a celulose usada na produção de fraldas e absorventes higiênicos a partir da fibra curta do eucalipto, primeira a conseguir aprovação para o uso comercial de uma variedade de eucalipto geneticamente modificado, pioneira na produção de papéis reciclados de alta qualidade para impressão a partir de aparas e na produção de papéis sanitários tissue de forma integrada à produção de celulose.

A área onde a inovação tem sido particularmente relevante é a silvicultura. Nos últimos cinquenta anos, os ganhos de produtividade da floresta no país saltaram de 17-20 m³/ ha-ano para até quase 60 m³/ha-ano. E não é só por causa do clima. Ciência e tecnologia explicam parte importante do desempenho, a partir de um trabalho meticuloso de seleção, clonagem e pesquisa genética desenvolvido por décadas pelas grandes empresas do setor (Suzano/Fibria/Aracruz, Klabin, VCP e Duratex), em conjunto com os institutos de pesquisa e universidades. 

Um dos registros mais marcantes foi o desenvolvimento do clone híbrido pela Aracruz, após ataques devastadores de fungos que quase inviabilizaram o projeto pioneiro no Espírito Santo no início da década de 70. Aliás, aqui outro capítulo extraordinário da história do empreendedorismo no setor, liderado pela família Lorentzen.

A Suzano também está no mundo digital, empregando analytics e big data, que permite encontrar a melhor solução de clonagem para cada região. Já a FuturaGene, subsidiária integral e líder em biotecnologia florestal com centros de pesquisa no Brasil e em Israel, tornou-se em 2015 a primeira empresa no mundo a obter aprovação para plantar uma variedade de eucalipto geneticamente modificado com aumento de produtividade.

Outro produto é a nanocelulose, micropartícula da celulose, com uma espessura dez vezes menor do que um fio de cabelo. As aplicações potenciais são inúmeras, desde papéis e embalagens, tintas, cosméticos, espessantes até fármacos e alimentos. A Suzano tem avançado na sua aplicação para a substituição de matéria-prima fóssil em produtos de limpeza e na fabricação de tintas e telhas de fibras de cimento, mas a linha de utilização mais avançada é no setor têxtil, através de sua participação na Spinnova. A startup finlandesa desenvolveu um processo capaz de transformar a nanocelulose em uma fibra descontinuada usada na fabricação dos fios que formam tecidos. O produto, totalmente natural, biodegradável e reciclável, não usa químicos nocivos, nenhum tipo de solvente, nem microplásticos, apresenta uma redução de 60% na pegada de carbono e de 90% no uso de água, quando comparado ao fio de algodão. Não à toa, já despertou atenção de parceiros como Adidas, The North Face e H&M. 

Por essas inovações podemos ver que empresas que produzem commodities não necessariamente ficam acomodadas nos produtos e serviços comercializados em escala.

 

https://www.agazeta.com.br/colunas/evandro-milet/produtores-de-commodities-tambem-sao-capazes-de-inovar-1121

 

Publicado em A Gazeta em 20/11/2021