Se o Espírito Santo é considerado a praia dos mineiros, talvez possamos em algum tempo devolver a brincadeira e chamar Minas Gerais de retroárea dos portos do Espírito Santo. Está pintando a nova fronteira agrícola do país: o noroeste de Minas, com Pirapora como referência, estendido até o leste de Goiás e a região do Distrito Federal. São 7 milhões de hectares em desenvolvimento na parceria da VLI com a Embrapa. A VLI opera ferrovias e para isso precisa de carga para ser transportada. A novidade nesse caso é que ela está trabalhando para gerar a carga a ser transportada. O crescimento do agronegócio em Minas tem sido explosivo. Se a base era o café e a pecuária, o novo negócio em crescimento acelerado é soja(e milho), que precisa de fertilizantes na mão contrária.
A tecnologia para esse pedaço de cerrado é diferente da tecnologia para o centro oeste por questões climáticas e de solo e precisa ser desenvolvida, como aconteceu há 50 anos para a região central quando a Embrapa tropicalizou a soja originária de climas temperados da China e a levou até quase a linha do Equador. Essa nova fronteira fortalece o sonho antigo de um potente corredor Centro Leste que desemboque nos portos do Espírito Santo.
As novidades acontecem aí também. O Porto de Vitória, recentemente concedido à iniciativa privada incluindo a autoridade portuária, promete crescimento rápido sem as amarras de órgão público. Anteriormente, qualquer novo negócio proposto ao porto precisava ser licitado, com todos os problemas de tempo, autorizações e judicializações e com restrições pouquíssimo flexíveis, além de concurso público para contratação de pessoal. As decisões agora podem ser rápidas implicando, por exemplo, na volta da Technip, cuja necessidade não podia ser atendida pelas limitações anteriores. Está na pauta o retrofit dos degradados e semi-desocupados galpões do centro de Vitória, prometendo até um novo ambiente urbano. Uma nova parceria com a VLI vai recuperar trechos ferroviários internos sem utilização e está no radar a operação de grãos e fertilizantes. A liberdade adquirida pela VPorts(novo nome da Codesa) já sinaliza aumento de calado e largura e tonelagem das embarcações operando no porto. Esse novo ambiente portuário se junta à ampliação de tipo de carga no Portocel, ao novo porto da Imetame em avançado estágio de construção(maior obra portuária em andamento no país), a área também com a Vports em Barra do Riacho, ao Porto de Tubarão, ao crescimento do Porto de Ubu com a prometida EF-118 e o anúncio do início de construção do Porto Central. A expansão do agronegócio transitando nesse ambiente pode diluir eventuais restrições à viabilidade econômica do contorno da Serra do Tigre, demanda mais que antiga do projeto logístico do estado. Um novo ramal de Unaí à Pirapora é um avanço.
Mas nem tudo é mar de rosas. A disputa política se manifesta no setor de ferrovias, com a Bahia fortalecida no novo governo federal tentando viabilizar a ferrovia Oeste Leste que liga uma expectativa etérea de carga a um porto que não existe, e que poderia atrapalhar nossas demandas na renovação antecipada da concessão da FCA.
A parceria capixaba com Minas fortalece a nossa posição e é estratégica politicamente. Podem vir à praia, mas tragam a soja para cá.
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Publicado no Portal ES360 em 26/03/2023