Em o mito da caverna, Platão narra diálogo onde Sócrates diz para Glauco imaginar prisioneiros acorrentados, desde a infância, em uma caverna, de costas para a entrada. Uma fogueira atrás projeta, na parede em frente a eles, as imagens de pessoas e coisas que passam do lado de fora. Com muito tempo ali, a realidade para eles são aquelas imagens e não mais o que acontece de verdade atrás deles. Quando um deles se liberta, tem dificuldade de entender o que se passa.
Nós vivemos hoje confinados na nossa caverna-office. Se a pandemia durar muito tempo, não lembraremos mais como são os colegas de trabalho, clientes, amigos e familiares. Todos se transformaram em imagens e sons do Zoom nas telas dos computadores do home-office, nas lives e nas reuniões virtuais da família e dos amigos. A realidade agora é digital e de vez em quando alguém fica com a imagem borrada ou com a voz deturpada pelas redes precárias que usamos, quando não desaparecem simplesmente com conexões perdidas, como se Platão tivesse apagado a fogueira.
Quando finalmente sairmos, poderemos ter a sensação de ter participado de um filme como Matrix ou Show de Truman onde a realidade foi comandada por Bill Gates, Sergey/Page ou o chinês do Zoom.
Mas essa realidade paralela não acontece só agora na caverna-office. O mundo das redes sociais criou universos paralelos ou bolhas daquelas projetadas para permitir vida em Marte. Cada grupo vive sua ideologia e sente em relação aos das outras bolhas um ódio platônico(para não trocar de filósofo), que pode chegar às vias de fato, se houver manifestações presenciais no mesmo local e hora.
As realidades distorcidas pela fogueira ideológica projetam sombras na forma de fake news, teorias conspiratórias, textos com autores improváveis, estatísticas tortas e discursos de ódio replicados sem o mínimo cuidado de verificar autenticidade.
O fato é que essa caverna-office obrigatória, com seu potencial de desestabilizar emocionalmente qualquer um, amplia a oportunidade de se dedicar às discussões das redes com mais rancor ideológico, entre cloroquinas e ivermectinas, isolamentos verticais ou horizontais, protocolos e aberturas, TVs contra ou a favor e globalismos e queimadas.
Nessa hora ficamos mais parecidos com nossos antepassados trogloditas em suas cavernas, muito antes de Platão.
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