O livro de Monteiro Lobato, Reinações de Narizinho, publicado em 1931, começa assim:
“Numa casinha branca, lá no sítio do Pica-pau Amarelo, mora uma velha de mais de sessenta anos. Chama-se dona Benta.” Ora, velha com sessenta anos? Tudo mudou desde 1931. A atenção à saúde, exercícios físicos, plásticas e botoxes, remédios, cirurgias, atitudes perante a vida, novos casamentos, tudo isso modificou o conceito de velhice.
As companhias aéreas perceberam recentemente essas mudanças e modificaram a idade para filas preferenciais de 60 para 80 anos, considerando que a imagem de idosos nas placas mostram um indivíduo curvado apoiado numa bengala, longe da figura atual de um sexagenário. Além disso, com um número cada vez maior de pessoas mais velhas, as filas de preferenciais começam a ficar maiores que as filas comuns.
Falta avisar à imprensa, que continua a noticiar atropelamentos de idosos de 60 anos, muitos dos quais talvez prefiram morrer atropelados que serem chamados de idosos.
Isso faz lembrar o escritor João Ubaldo Ribeiro que dizia: “Prefiro que me chamem logo de ancião a me classificarem como “na melhor idade”, caso que já é para reagir à bala. Aqui para sua melhor idade.”
Não faz mais sentido prefeituras darem carteirinhas de idosos com 60 anos, reservando vagas de estacionamento ou preferência nas filas dos bancos e supermercados para cidadãos que passam serelepes na frente, sob os olhares desconfiados do resto da fila.
Uma maneira de perceber as mudanças é observar que já passaram dos 70 Caetano, Gil, Chico, Roberto, Lula, Temer e Trump e continuam por aí com suas performances particulares.
Tudo bem que um mais cínico já disse que você pode viver até os cem anos se abandonar todas as coisas que fazem com que você queira viver até os cem anos, ou que envelhecer é como morrer afogado: uma sensação deliciosa, depois que você para de se debater.
Porém, é justa a mudança de idade de aposentadorias proposta na reforma da previdência em tramitação. Quem se aposentar com 50 anos, tem possibilidade de viver até os 90 pelo menos, sendo sustentado por 40 anos com o dinheiro recolhido de todos nós – não faz sentido.
Essas mudanças geram oportunidades. Peter Diamandis, reitor da Singularity University no Vale do Silício, diz no livro “Oportunidades Exponenciais” que existem mais de US$ 50 trilhões depositados nas contas bancárias de pessoas com mais de 65 anos. Novos produtos e serviços estão à espera que os desenvolvedores e empreendedores os projetem e produzam, buscando o verdadeiro sonho maior de Diamandis e de todos nós: a imortalidade.
Evandro Milet é consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente sobre inovação e negócios.
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