Perigos digitais

Quando o Google fez um acordo com o jornal New York Post para publicar anúncios laterais, associados às matérias publicadas, não imaginou a trapalhada que poderia acontecer. Ao lado de uma reportagem sobre um assassino que esquartejava as vítimas e colocava os pedaços em sacos de lixo apareceu uma propaganda de … sacos de lixo. O algoritmo sem noção teve de ser trocado rapidamente.

Mais recentemente, grandes empresas anunciantes no YouTube retiraram seus anúncios porque foram colocados ao lado de vídeos terroristas ou racistas, comprometendo sua imagem.

O mundo digital promete maravilhas para a humanidade em saúde, mobilidade, segurança e conforto, mas nos prepara também algumas armadilhas. Carros sem motorista podem aumentar a nossa segurança nas estradas, considerando que não bebem, não dormem, não se distraem e nem falam ao celular dirigindo. Mas podem ser sequestrados por um hacker e nos levar para longe, com pedidos de resgate. Algoritmos sofisticados podem não apenas reconhecer nossos rostos mas também perceber as nossas emoções e aproveitar para nos empurrar produtos para os quais estamos vulneráveis emocionalmente. Podem saber tudo que compramos, todos os nossos roteiros, as consultas e diagnósticos médicos, as nossas consultas no Google, as postagens no Facebook e WhatsApp. Empregadores usam frequentemente as informações pessoais de candidatos levantadas na rede. Tudo constitui as tais informações não estruturadas que o big data analytics vai processar. Vão adivinhar os nossos próximos passos. Perigo!

Logo depois da Maratona de Boston, onde um atentado explodiu uma bomba preparada em uma panela de pressão colocada em uma mochila, uma casa de família foi cercada pela polícia. O que tinha acontecido? Por acaso o marido fez uma consulta no Google sobre mochilas no mesmo dia que a mulher consultara sobre panelas de pressão. A polícia juntou as pontas, o que significa que têm acesso a tudo.

A diretora de comunicação de uma empresa inglesa partindo de Londres para a África do Sul postou no Twitter: “Indo para a África. Espero não contrair Aids. Brincadeira. Sou branca!”. Durante o voo, o comentário racista se espalhou e ela chegou ao destino demitida. Postagens na rede são definitivas e podem acabar com carreiras ou impedir o início delas.

Os assistentes pessoais como o Siri da Apple estão ficando cada vez mais inteligentes e podem responder qualquer pergunta com razoável articulação. Bom, talvez não todas. Um amigo, em um dia nervoso, mandou o Siri para aquele lugar. Essa não é uma palavra bonita, respondeu a geringonça, educadamente.

Sobre o autor:

Evandro Milet é consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente sobre inovação e negócios.

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