Paranoias e prejuízos

O petróleo já não representa a mesma coisa que representava em décadas passadas por dois motivos: a pressão por tecnologias limpas e o seu desenvolvimento acelerado, que tendem a tirar a importância do petróleo ao longo do tempo, e a importância crescente do conhecimento como maior recurso estratégico no lugar dos recursos naturais.

Dessa maneira, soa completamente anacrônica a preocupação paranoica com a manutenção da Petrobras como o maior ativo estratégico do país. Delírios sobre multinacionais conspirando para tomar as nossas reservas são bons temas para palanques aqui e na Venezuela, mas não tem mais nada a ver com o mundo moderno.

Em vez do “petróleo é nosso” e abraços em torno do prédio da Petrobras, deveríamos ter “educação é nossa” e abraços em torno das nossas escolas e universidades, onde deveria estar sendo gerada a riqueza do futuro – e não está.

A mudança no modelo de concessão para partilha, dentro de um discurso ideológico eleitoral, provocou apenas uma grande confusão nos royalties, a criação desnecessária de uma nova estatal, a bobagem de obrigar a Petrobras a ser a única operadora e a ter participação de 30% em todos os campos do pré-sal, mesmo se não quiser.

Como a Petrobras não tinha caixa para esse nível de participação, o governo segurou, por cinco anos, a realização de novas rodadas( e voltou a segurar agora para o pré-sal), prejudicando toda a indústria, atrasando a ampliação de reservas, produção e recursos para o que é importante de fato: desenvolver a educação.

A Petrobras tem tecnologia premiada e técnicos do mais alto nível e não precisa desse tipo de proteção para ser eficiente.

Enquanto isso, os EUA desenvolveram a tecnologia de exploração do xisto, o México abriu a exploração no Golfo, a África descobriu novos campos e o preço do petróleo caiu pela metade. Quer dizer, temos novos concorrentes e perdemos a oportunidade de trazer novas empresas para acelerar a produção.

Mais importante até do que o petróleo em si, seria o desenvolvimento de uma indústria nacional inovadora e tecnologicamente avançada na cadeia do petróleo, favorecida pelas cláusulas de conteúdo local – que valem também para as multinacionais. A indústria porém, precisa de continuidade de encomendas. Segundo a FIRJAN, cada ano sem leilão gera uma perda potencial de US$ 11,5 bi em investimentos na indústria. 

Cabeças ideologicamente defasadas resistem em voltar ao modelo anterior para não reconhecer mais um prejuízo bilionário para o país. Como dizia Millor Fernandes, tem gente que chegou ao limite da própria ignorância. Não obstante, prosseguiu.