Quando um adolescente portando um fuzil é morto pela polícia, muitos exigem que se troque a expressão “adolescente” por “bandido” – e realmente é um bandido. Afirmam que o policial deve ser condecorado, que a maioridade penal deve ser reduzida e a cadeia não precisa ter espaço adequado pois, quem não quiser isso, basta não cometer crime.
Outros reagem questionando o que fizemos como nação para que adolescentes escolham essa opção de vida.
Um grande debate acontece atualmente no mundo sobre desigualdade e o seu impacto na economia e na sociedade. Há uma corrente que defende eliminar a pobreza, mas a desigualdade de renda seria natural pela diferenças entre as pessoas. Não é bem assim. É realmente uma questão moral eliminar a pobreza. Mas deixar existir uma desigualdade imensa é ruim para o país. Provoca crises sociais e políticas que desestabilizam a própria democracia.
Existem várias desigualdades. Há a desigualdade de oportunidades: as escolas para os pobres deveriam ser iguais às escolas para os ricos, e gratuitas portanto, pelo menos até o ensino médio. Isso já acontece em muitos países capitalistas, inclusive nos EUA(embora haja opções com escolas particulares). E há as desigualdades raciais e de gênero, em que a educação desempenha papel fundamental para a solução a longo prazo, embora exijam ações afirmativas de curto prazo.
Há desigualdade na oferta de serviços públicos como saúde e segurança, que deveriam ser gratuitos. E há outros serviços fundamentais que deveriam ser oferecidos, não gratuitos, mas em condições de preço e facilidade de acesso a todos como eletricidade, saneamento, transporte público e, mais recentemente, conexão à internet e, claro, a própria moradia.
Para isso o país deve ter sua economia bem administrada, sem inflação, sem corrupção, juros baixos, impostos razoáveis, facilidade de crédito, pouca burocracia, abertura comercial, justiça que funcione e todas as outras coisas que compõem um ambiente de negócios que aumente a produtividade e incentive os empresários para gerar riqueza. Com isso, haverá empregos ou trabalho e os serviços e os produtos serão oferecidos a preços razoáveis.
As desigualdades de renda que persistirem dizem respeito às diferenças de talento, empenho, personalidade e espírito empreendedor. Mas essa desigualdade também não deveria ser extremada, porque afeta a capacidade de influir nas próprias políticas públicas e realimenta as desigualdades. Grupos desproporcionalmente muito fortes sequestram os recursos em benefício próprio de várias maneiras: ao eleger os políticos que preservam as desigualdades, ao influir nos orçamentos, ao priorizar serviços para os seus locais de moradia, ao conseguir subsídios e incentivos, ao perpetuar vantagens fiscais ou conseguir diferenciação na justiça.
Eliminando a pobreza e tratando adequadamente as desigualdades, não teríamos mais adolescentes com fuzis.
É utopia? Precisamos de uma.
Sobre o autor: Evandro Milet é consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente sobre inovação e negócios.
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