A sociedade tem que pressionar as grandes empresas que poluem o ar de Vitória. Alguma solução tem de acontecer, principalmente quanto ao desembarque e manipulação de carvão da Arcelor e da Vale. Os pátios ficam alinhados com o caminho do vento nordeste que traz a poeira mais fina para as nossas casas e pulmões.
Por outro lado, não podemos simplesmente querer fechar empresas ou proibi-las de operar.
Sem essas empresas a Grande Vitória seria uma grande roça. Os naturais daqui talvez tivessem uma vida mais pacata, sem pó preto, mas também sem os filhos que teriam migrado para os grandes centros atrás de empregos e sem os milhares de mineiros e naturais de outros estados que ajudaram a fazer o grande estado que temos. A cadeia metal-mecânica não existiria, nem muitas empresas de TI, nem inúmeros fornecedores que se instalaram aqui.
Sem a rede de vários níveis de fornecedores das grandes empresas, não haveria renda para movimentar o comércio e todos esses shoppings, supermercados, hotéis, hospitais e universidades. Ninguém teria que fechar as varandas porque não haveria varandas. A indústria de construção civil seria muito menor. Não haveria ferrovia Vitória-Minas nem Porto de Tubarão para movimentar outras cargas. Os governos não arrecadariam muito, não contratariam metade dos funcionários que têm, nem obras. Empresas de obras públicas e de transportes seriam poucas. Não haveria trabalho para tantos médicos, advogados, jornalistas, engenheiros, economistas, bancários, lojistas, motoristas e operários.
Isso não é exagero. É apenas uma constatação. O Estado seria uma continuidade do que era antes. Isto é: nada. Muito bonito, mas pobre aqui e certamente miserável no interior.
O lamentável episódio da Samarco, que surpreendeu a todos, pois sempre foi um exemplo de preocupação com a sustentabilidade, recebe o mesmo tratamento suicida. Aproveitemos o episódio para recuperar o Rio Doce que já estava morto antes, mas o fechamento da Samarco não interessa ao Espírito Santo.
Depois de perder o Fundap e das mudanças do ICMS e agora que a Petrobras reduziu seu potencial para ser o grande alavancador de uma terceira onda de desenvolvimento do estado com a queda dos royalties, não podemos perder os grandes projetos industriais da segunda onda. Conforme Orlando Caliman em “Desafios da dependência” neste jornal(11/2/2016), entre impactos diretos e indiretos, eles representam a maior parte da economia do Estado. Mas isso não significa licença para poluir.
Nem eu e nem você gostamos de viver respirando pó preto e nem em uma grande roça. Temos de encontrar uma solução.
Evandro Milet
Consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente aos domingos
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