O Paradoxo Chinês

Em 1992, visitando a França, o primeiro-ministro da China Chu En-Lai, ao ser perguntado sobre a opinião dos chineses a respeito da Revolução Francesa – que comemorava 200 anos – respondeu: “Ainda é cedo para uma avaliação definitiva”. São 5000 anos de História e, na maior parte desse período a China esteve entre as nações mais desenvolvidas do mundo. Em 1979, após os desastres da revolução cultural de Mao Tse-tung e da grande Marcha para a Frente que levou à morte mais de 30 milhões de pessoas de fome, a China reiniciou sua trajetória para o topo do ranking das nações. Uma série de reformas econômicas, capitaneadas por Deng Xiaoping, faz com que a China mantenha um crescimento anual de 9,6%, em média, há 28 anos. Nesse período liderou o ranking de crescimento global, multiplicou por quatro o tamanho da sua economia, tirou milhões de pessoas da pobreza e promoveu o mais intenso processo de urbanização já visto na História. Hoje, 58% da população vivem na zona rural (aproximadamente 750 milhões) e 42% nas cidades (aproximadamente 540 milhões), mas estima-se que mais 300 milhões de chineses deverão trocar o campo pela cidade até 2020. Esse movimento e o processo de abertura para o mundo fez com que as cidades chinesas se ocidentalizassem rapidamente com arranha-céus e viadutos que a fazem consumir 50% do cimento e 33% do aço produzido no mundo. Só a cidade de Xangai, a maior do país, concentra 30% dos guindastes em operação na face da Terra! O país que, há dez anos, era movido por bicicletas passou a ter o 3° mercado automobilístico do mundo , devendo tomar o 1° lugar dos EUA até 2015. Com um fluxo de comércio de 1,4 trilhão de dólares em 2005 a China, que exportava basicamente produtos primários ou de baixa qualidade, exporta hoje 92,1% de produtos industrializados, com crescente conteúdo tecnológico, tendo superado os EUA como o maior exportador de bens relacionados à tecnologia da informação. Como base para esse desempenho está a formação anual de 325.000 engenheiros, cinco vezes mais que nos EUA. Outros fatores de competitividade são: o baixo custo de mão de obra, alimentado pelo excesso de trabalhadores vindos do campo e pelos baixos encargos trabalhistas, a ausência de uma legislação trabalhista restritiva, o baixo custo dos empréstimos bancários, em torno de 6% ao ano, a carga tributária reduzida (para o setor exportador de vestuário um total de 4% ao ano) e a moeda artificialmente desvalorizada.

A esse inegável sucesso econômico se contrapõem grandes problemas: das 20 cidades mais poluídas do mundo, 16 estão na China; as cópias sem autorização que inundam o mercado local e o mundo incluindo CD’s, DVD”s, automóveis, elevadores, motos e até helicópteros além do regime político do partido único, da censura generalizada, da falta de separação entre poderes e da prevalência da segurança do Estado sobre qualquer processo legal.

 

Evandro Milet

Diretor Técnico do Sebrae-ES