Hannah Arendt, filósofa política alemã, dizia que a política trata da convivência entre diferentes. Os homens se organizam politicamente para certas coisas em comum, essenciais num caos absoluto, a partir do caos absoluto das diferenças. Trata-se portanto de atividade fundamental e que deve ser respeitada apesar de todos os problemas.
Porém, entre a seriedade e a importância do exercício do poder se encontra espaço para o humor, seja provocado por personalidades folclóricas, seja por circunstâncias absolutamente hilárias ou pela percepção apurada dos humoristas profissionais, de políticos ou jornalistas espirituosos ou dos amadores na internet.
Certa vez, em uma visita com uma comitiva política à Prefeitura de Imperatriz no Maranhão, o Prefeito nos recebeu começando assim o discurso: “Imperatriz genuflexa perante esta comitiva luzidia.” Me senti em Sucupira, a criação antológica de Dias Gomes.
Na ditadura, o humor era uma forma de vingança como quando o Pasquim, tablóide também de humor, juntou os slogans de três governos de generais onde Castelo Branco dizia:”O Brasil está à beira do abismo”, Costa e Silva afirmava:” o Brasil deu um passo à frente” e Médici finalizava: “Ninguém segura esse país”. Havia outras piadas mais rudes principalmente com Costa e Silva que tinha fama de pouco inteligente.
Em outra época a figura folclórica de Jânio Quadros, que cultuava um português rebuscado, alimentava histórias que ninguém sabe mais se eram verdadeiras como quando perguntado por que tivera certa atitude: “Fí-lo porque quí-lo”, teria dito. Ou quando questionavam seu hábito de beber uísque: “Bebo-o porque é líquido, se fosse sólido comê-lo-ia”. Depois de cassado Jânio foi morar em Londres e tinha horror de encontrar brasileiros. Estava caminhando na rua quando um eleitor o viu:- Presidente, o senhor sabe quem sou eu? Jânio ficou com ódio, arregalou os olhos :- Ora, meu caro, se você, que é você, não sabe quem você é, logo eu é que teria de sabê-lo?
Nos dias de hoje as situações são mais pesadas. No Congresso, há pouco tempo, em meio a uma votação tumultuada, o Deputado Wellington Salgado constatava que não dava nem para vender a alma ao diabo porque tinha gente oferecendo de graça.
A novidade mais recente é o humor de anônimos na Internet. Recentemente o Ministro Mantega tentava atenuar o resultado do pibinho de 2012 afirmando que apesar disso o povo estava feliz. O internauta sapecou: “Não importa o tamanho do PIB. O importante é o prazer que ele proporciona”.
Não custa nada parar um pouco para rir.
Evandro Milet é consultor de empresas