Não é democrático dividir, com o Congresso, a responsabilidade de decidir onde cortar no orçamento. Afinal são só 513 deputados e 81 senadores. Como o PT se orgulha, orçamento tem de ser participativo e deve envolver a população e a sociedade organizada também para cortar. Proponho que a discussão comece em reuniões por bairro. Depois seriam feitas assembleias por cidade, depois por estados até chegar a uma grande Conferência Nacional do Ajuste Fiscal.
As reuniões terão que ser naturalmente em dias de semana, pois aos domingos há outras coisas para fazer e é melhor matar o trabalho, quando ele existir. Não teria problema de presença. A UNE mobilizaria seu pessoal que está ocioso. Apesar de greves e greves, não se ouve falar em mobilização para defender o direito dos estudantes de estudar. A turma do MST também está tranquila, apesar de não andar nenhuma reforma agrária. E a CUT? Ah! Desemprego em alta não é motivo para greve geral e outras práticas do gênero, como nos tempos gloriosos. Está todo mundo anestesiado com dinheiro público ou com recolhimento compulsório de contribuição sindical dos trouxas.
E as propostas? Podemos começar, claro, com reduzir o lucro dos bancos. Mas o Ministro da Fazenda foi colocado lá por sugestão e articulação de Lula com o Presidente do Bradesco, como noticiaram amplamente os jornais. Não vai dar. Podemos fazer acordos de livre comércio com Cuba, Irã e Venezuela, que tomaram tanto tempo e atenção dos governantes. Receberíamos uns Cohibas, uns tapetes e talvez alguma miss. Mas isso não paga dívida.Podemos pedir abatimento da conta do Mais Médicos. Afinal, os cubanos estão abrindo as portas para os americanos e vão encher as burras de dinheiro dos turistas. Outra proposta seria pedir de volta o dinheiro perdoado para alguns países africanos. O PIB deles cresce muito mais que o nosso nesse momento. Os coitados somos nós agora.
Provavelmente, juntando isso tudo, não dá ainda para cobrir o déficit que, segundo especialistas, pode ser como as placas de velocidade nas estradas, 30, 40, 60 ou 80 bilhões. Depende do que o Governo vai conseguir arrecadar. No final vai sobrar mesmo para os companheiros. Como já contribuíram com uma vaquinha para pagar a multa do Dirceu, enquanto ele tinha 29 milhões no banco, não vai ser difícil convencê-los a pagar mais essa.
No final, extraída uma proposta, seria anunciado com grande pompa pela Presidenta, em cadeia(epa!) nacional de rádio e televisão, o PROgrama PArticipativo POpular de ajuste FIscal organizADO, o PROPAPOFIADO e seremos felizes para sempre. Haja panela!
Evandro Milet
Consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente aos domingos
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