Quem visitou o Rio no período da Copa do Mundo pôde compartilhar o deslumbramento da avalanche de turistas que encheram ruas, praias, bares, casas de sucos típicas, lojas, a noite e os locais turísticos da cidade.
Realmente o astral é inigualável. Certa vez presenciei um choque inusitado de manifestações, em pleno domingo no calçadão na praia de Ipanema onde, vindo em sentidos contrários, se encontraram o Hare Krishna e a torcida do Flamengo e juro que ouvi alguém gritar: Hare Mengo!
Quem anda de taxi no Rio percebe logo a diferença dos taxistas espertos, cheios de conversa, diferentes dos competentes profissionais de São Paulo, por exemplo. Centro de atração de pessoas de todo o Brasil, no Rio todos os porteiros são paraibanos e todos os garçons cearenses, além dos sushimen.
Da rivalidade com São Paulo, os irreverentes cariocas naturais ou adotados criam lendas como Nelson Rodrigues que dizia não haver pior solidão que a companhia de um paulista ou Bussunda que, ao ser perguntado em entrevista sobre qual o lugar mais esquisito onde já fizera amor respondeu: São Paulo.
Tom Jobim dizia que Nova Iorque era bom mas era uma merda e o Rio era uma merda mas era bom. Talvez a mistura única de classes sociais, proporcionada pela geografia dos morros no meio da cidade, o espírito da praia e a herança de capital da República tenham criado essa cultura irreverente, iconoclasta, criativa, inovadora, desinibida e ao mesmo tempo cosmopolita e conectada politicamente.
Caixa de ressonância e centro das grandes manifestações políticas, ali aconteceram o suicídio de Vargas, o comício da Central em 64, a passeata dos cem mil, o grande comício das diretas-já, mas também o samba, a bossa nova e a revolução dos costumes dos anos 60 que fazem a cidade centro da cultura e da moda.
O Rio passa hoje por um momento de transformação: novas avenidas, o Porto Maravilha, novas linhas do metrô, comunidades pacificadas e a simbólica derrubada do monstrengo da Perimetral que não seria no Rio se não houvessem sido surrupiadas, inacreditável e inexplicavelmente na obra, seis vigas pesando cerca de 20 toneladas cada.
Há estudos sobre como o Brasil é visto no exterior citando 5S: sun, sand, sexy, sea e sound, representando em português sol, praia, sensualidade, mar e música. Não é de estranhar que tanto sucesso façam lá fora as havaianas, o churrasco, a caipirinha, o biquíni, o carnaval e o réveillon. Esses símbolos remetem à festa, alegria, beleza, descontração que fizeram o sucesso do Brasil na Copa e onde o Rio desponta como o centro dessa festa.
Evandro Milet morou anos no Rio