Em 1992, visitando a França, o primeiro-ministro da China, Chu En-Lai, ao ser perguntado sobre a opinião dos chineses a respeito da Revolução Francesa – que comemorava 200 anos – respondeu, do alto dos seus 5.000 anos de história: “Ainda é cedo para uma avaliação definitiva”.
O Brasil tem pouco mais de 500 anos de colonização portuguesa, uns 11.000 anos de ocupação humana pelos povos originários e completa, em 2022, 200 anos da independência, mas até hoje não encontrou um rumo e está longe de uma avaliação definitiva.
Os votos para 2022, de desejo e de urna, seriam por um debate e um desfecho eleitoral que contemplassem os temas relevantes para que o país acertasse o seu rumo na história.
Que, definitivamente, acabassem as dúvidas sobre democracia e se enterrassem de vez as ameaças que nos assombraram em 2021.
Que pudéssemos retomar as bases para o crescimento do país, sem inflação, com juros baixos e desemprego decrescente. E para isso as reformas, quase sempre postergadas, têm que avançar.
Que ficasse claro que gastar mais do que se arrecada gera alta de juros e as poupanças voam para a renda fixa tirando dos investimentos produtivos. Um pequeno período de baixa de juros, a partir do governo Temer, sinalizou isso com a fuga da renda fixa para a Bolsa com IPOs milionários de empresas produtivas de vários setores se capitalizando e investindo e a construção civil bombando com o renascimento do financiamento imobiliário.
Que ficasse entendido que a pobreza tem que ser extinta definitivamente e a desigualdade extrema reduzida substancialmente. Alguma desigualdade é normal, mas não no nível que acontece no Brasil. E porque é problema? Porque perpetua um problema econômico e social: a desigualdade é multidimensional. É de renda, nutricional, de acesso, de gênero, de raça, de infraestrutura e informacional. Quem está para cima no topo da pirâmide acaba conseguindo influir, mesmo que inocentemente, nas decisões que perpetuam as desigualdades.
Que fosse consenso que meritocracia não pode ser tomada como valor absoluto. Afinal, como aprendemos na pandemia, não estamos todos no mesmo barco. Estamos na mesma tempestade, porém em barcos diferentes. Não podemos tratar de modo igual pessoas que não tiveram as mesmas oportunidades. Cotas e programas de transferência de renda são imprescindíveis nas nossas condições.
Que definitivamente compreendêssemos que os nossos problemas não vêm de fora, a grande maioria é culpa nossa mesmo. Porque não investimos em educação, porque temos insegurança jurídica, por que temos excesso de burocracia, por que temos um sistema tributário insano, por que temos carga tributária alta e serviços ruins? Como disse Peter Drucker: Não existem países subdesenvolvidos. Existem países subadministrados. E o nosso Barão de Itararé: “O Brasil é feito por nós, precisamos desatar esses nós.”
Que todos entendessem a sustentabilidade ambiental como uma causa assumida pelos consumidores e eleitores dos países desenvolvidos e que devemos assumir também. Que existem interesses comerciais, claro que existem. Mas o problema não é o Macron, são os eleitores dele. E não adianta argumentar que eles destruíram as suas florestas 200 anos atrás. Vamos fazer o quê? Declarar guerra, boicotar seus produtos? É uma ideia inocente achar que eles dependem do nosso alimento mais do que dependemos deles. E a Amazônia é um símbolo e está sendo desmatada mesmo, segundo dados brasileiros.
Que todos percebessem a importância da produtividade como sinônimo de desenvolvimento e a necessidade de abertura de fronteiras para que as nossas empresas possam competir no mundo, disputando não apenas os nossos 2% do mercado mundial, mas os 98% mundo afora. Mesmo entendendo que temos que avançar na redução do custo Brasil para uma competição saudável e para podermos participar das cadeias produtivas globais.
Que ficasse clara a importância da pesquisa, desenvolvimento e inovação com recursos adequados tanto nos governos como nas empresas, para que o país possa participar dos grandes movimentos tecnológicos em crescimento no mundo.
Que o bom senso prevalecesse nas redes sociais e as famílias e os amigos se reconciliassem depois de um período de acirramento dos ânimos políticos.
E que todos tenhamos um ótimo 2022, com realismo esperançoso, nas palavras de Ariano Suassuna.
Publicado em 01/01/2021 em A Gazeta