Pobre democracia brasileira. Crises políticas fizeram um presidente se matar, outro renunciar, outro foi derrubado por golpe militar e outro ainda derrubado pelo Congresso. O desfecho da crise atual é imprevisível. Fica cada vez mais difícil enxergar uma saída suave. Olhando pelo lado positivo, a ditadura nos tornou imunes a golpes militares, a hiperinflação nos deixou extremamente sensíveis a processos inflacionários e torçamos para que mensalões e petrolões nos vacinem contra a corrupção endêmica.
O modelo deixa de ser do presidencialismo de coalizão para um presidencialismo de colisão, onde executivo colide com legislativo, legislativo com judiciário, governo com sua base e até com seu próprio partido. Já vimos, com Collor, a situação de um presidente isolado, sem apetência para a negociação política, sem apoio parlamentar e um grande escândalo de corrupção pairando sobre tudo. A novidade agora é que a cúpula da base aliada no Congresso está arrolada e enrolada e vai lutar pela sobrevivência política como um afogado que se agarra a qualquer coisa e leva junto quem estiver por perto.
Se as consequências ficassem restritas ao campo político seria mais uma oportunidade para o avanço das instituições democráticas. O problema maior acontece na economia. A Petrobras, que representa 13% do PIB, reduz investimentos, causando um estrago na cadeia de fornecedores que investiu para o boom apoteótico do pré-sal. As grandes empreiteiras que participam de todos os grandes projetos do país ficaram paralisadas com o Petrolão, com possibilidade de serem proibidas de contratar com o governo. Os bancos que as financiaram são obrigados a provisionar possíveis perdas em seus balanços, restringem o crédito e aumentam os juros. Sem os grandes concorrentes e sem crédito os novos processos de concessões de infraestrutura são adiados.
Decisões desastradas na economia, que tiveram suas consequências maquiadas no período eleitoral, obrigam o governo a um ajuste fiscal rigoroso que encontra resistências de todos os lados. Inflação, recessão e desemprego voltam à pauta, ameaçando o avanço social dos últimos 20 anos. Cortes generalizados de orçamentos paralisam obras e atingem universidades e governos estaduais e municipais. Agências de rating sinalizam a perda do grau de investimento. Sem confiança, empresários e investidores adiam projetos de investimento. Quem se arrisca sem saber como ficarão taxa de juros, câmbio, inflação, emprego e imposto, que se movem ao sabor da crise?
Com menos de 100 dias de novo governo, o país está parando. Feliz 2017 aos sobreviventes.