A queda de juros puxou o tapete dos investidores brasileiros acostumados com a renda fixa robusta e tranquila. Na busca por alternativas, os brasileiros correram para a bolsa. O número de CPFs cadastrados na Bolsa de Valores de São Paulo saltou de 1.681.033 em dezembro de 2019 para 3.687.026 em abril de 2021, um crescimento de 120%.
Mas não foi só a bolsa que sofreu um boom de investimentos. O setor de tecnologia também, com recorde de aquisições e de aportes em startups. Só no primeiro trimestre de 2021, as startups brasileiras receberam US$ 1,9 bilhão em investimentos, 54% do total aplicado em 2020.
O Brasil já soma mais de 13.500 startups(20 vezes mais que 2011), sendo mais de 800 fintechs(startups de finanças), mais de 500 edtechs(educação) e também mais de 500 healthtechs(saúde).
O que são as startups? Segundo definição clássica, são um grupo de pessoas iniciando uma empresa, trabalhando com uma ideia diferente, escalável e em condições de extrema incerteza.
E como se dão os investimentos nas startups? É conhecida a ideia que de cada dez startups, 6 não dão certo, duas empatam, uma dá certo retorno e uma bomba no mercado. A extrema incerteza na definição não é à toa. Inicialmente entram os 3Fs, como brincam os americanos: family, friends and fools(família, amigos e os trouxas) que aportam valores normalmente da ordem de até 100 mil. A partir daí aparece o grupo dos investidores-anjo, em atuação individual ou em grupos organizados para reduzir o risco, aportando de 100 mil a 500 mil. Depois entra o seed money(capital semente) entre 500 mil e 2 milhões e as chamadas séries A, B, C, D que entram com milhões crescentes, à medida que as empresas se desenvolvem e demandam capital. Cada investidor tem sua tese de investimento(setor e tipo) e o ticket(faixa de valor de aporte).
O passo seguinte é abrir capital na bolsa. Esse caminho já foi percorrido por várias empresas e o grande lance agora é abrir o capital na Nasdaq ou na Bolsa de Nova York, um criadouro de unicórnios(empresas com mais de um bilhão de dólares em valor de mercado). Investidores estrangeiros têm muito mais costume de aplicar em empresas de tecnologia e avaliam as empresas com múltiplos mais sedutores que no Brasil.
O que esses investidores, principalmente nas fases iniciais de investimento procuram nas startups?
Querem conhecer o empreendedor e saber se ele tem pique e conhecimento para tocar o negócio e se tem equipe. Querem saber se propõe uma boa solução para um problema real de mercado e se esse mercado potencial é grande.
Interessa saber se já têm clientes e faturamento, isto é, se o modelo está validado, principalmente com um modelo de negócio de receita recorrente e com um produto escalável, isto é, de crescimento rápido. Verificam se a barreira de entrada neste negócio é bem alta. Depender de negócios com governos é ponto negativo.
Por sua vez, as startups buscam smart money ou dinheiro conectado, isto é, investidores que possam agregar mercado ou gestão ao negócio.
Não apenas investidores individuais ou fundos de investimento procuram startups. Grandes empresas aprenderam que pode ser a forma mais rápida de resolver problemas ou aumentar a competitividade e até evitar um concorrente incômodo no futuro. Só no primeiro quadrimestre deste ano, o número de aquisições de startups cresceu 120% – um recorde para o segmento. Foram 77 negócios ante 35 em igual período do ano passado. Todos os dias grandes empresas expõem seus desafios para atrair startups para perto.
O lançamento de um fundo de venture capital com recursos do fundo soberano anima o ecossistema do estado e sinaliza um enorme potencial de novos negócios.
O Brasil acelera a participação no capitalismo exponencial e o Espírito Santo está dentro.
Artigo publicado no Gazeta online em 29/05/2021