NeoIndustrialização e commodities

Quando se fala em reindustrialização ou neoindustrialização surge sempre o raciocínio de considerar ruim a dependência do Brasil em commodities e a ideia de agregar valor a essas commodities. Em algum momento houve, por exemplo, a pressão do governo brasileiro para que a Vale agregasse valor ao minério entrando em siderurgia para não exportar o minério simplesmente. Contas rápidas são feitas comparando o preço da tonelada do minério exportado com uma tonelada de produtos fabricados em aço, certamente com valor muito maior.

Mas será esse o único caminho para aumentar a complexidade dos produtos desenvolvidos pela indústria nacional, considerando que o mercado quer a commodity para beneficiar no seu país?

Uma alternativa é melhorar a commodity e conseguir fugir do padrão de preço como acontece com os cafés especiais, o aço inteligente com tecnologia ou descarbonização da Arcelor, ou o briquete verde da Vale. Outra maneira é agregar mais tecnologia no processo,  aumentando a produtividade e assim reduzindo o custo e aumentando as margens, como faz a Suzano com mudas de eucalipto desenvolvidas com biotecnologia que crescem mais rápido e mais uniformes. Ou como as indústrias de produção de commodities fazem melhorando processos, desenvolvendo novos produtos, se parceirizando com startups para resolver dores, ou melhorando a logística. 

Muitas das soluções podem se transformar em produtos e serviços comercializáveis para o mercado. O agronegócio mostrou bem essa vertente ao agregar todo o cerrado para a produção de soja e agora com colheitadeiras autônomas, drones para aspergir defensivos e uso da agricultura de precisão com GPS. Também a pecuária se expande com alta tecnologia. A produção de petróleo onshore e offshore usa uma rede de empresas desenvolvendo tecnologia e novos serviços adaptadas às condições do pré-sal ou às características locais de produção em terra. 

Toda uma rede de tecnologia e serviços agregada à produção de commodities vai para o mercado mundial com base na experiência adquirida com o volume de produção que só nós temos.

A alternativa é aproveitar que entendemos profundamente de commodities e agregar valor na cadeia. Fundamental nesse caso é o incentivo à pesquisa e desenvolvimento nas universidades, à formação de gente e ao empreendedorismo que coloca as novidades no mercado. E quanto mais deeptechs, as startups saídas das bancadas dos pesquisadores, baseadas em ciência e engenharia avançadas em hardware, software, biotecnologia, nanotecnologia, fotônica ou mecânica, melhor para o país.

E se vento e sol são as novas commodities, também as temos à vontade para transformar em energia exportável e desenvolver a tecnologia para produzi-la.

Se o mundo precisa das nossas commodities vamos fazer do limão uma limonada tecnológica com alta produtividade e novas indústrias e novos serviços. A frase é clássica: “Na corrida do ouro, ganha dinheiro quem vende pás e picaretas”. 

Viva as commodities. 

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Publicado no Portal ES360 em 26/11/2023