Uma pesquisa recente de uma TV italiana perguntou aos assinantes qual país fora da Europa eles preferiam como aliado. De 800 que responderam, 36% responderam China e só 30% responderam Estados Unidos. A Itália não conseguiu, na própria Europa, apoio quando foi atingida duramente pela pandemia. A China tem usado a sua capacidade de produção na área médica como soft power, na Itália e outros países, agora que está saindo da crise do coronavírus. Jack Ma, o bilionário co-fundador da Alibaba, um gigante do e-commerce, enviou aviões com respiradores, testes e kits de proteção para todos os 54 países da África. A Huawei, que disputa no mundo a implantação das redes 5G e que é tratada nos Estados Unidos como ameaça à segurança, já entregou grande partida de máscaras, óculos de proteção e luvas para hospitais de Nova York. E também doou uma infinidade de máscaras para países onde disputa a implantação de redes 5G e enfrenta a forte oposição política dos Estados Unidos, como Canadá e Holanda. Da mesma forma quando Trump resolveu retirar seu apoio financeiro à OMS, a China cobriu e também já contribui com 55% do que os EUA aportam na ONU.
Hoje, cerca de 16% do PIB mundial é chinês, muito mais do que os 4,3% na crise sanitária anterior de grandes proporções, a epidemia da Sars, em 2002-3. Essa presença cria problemas por outro lado. A China se transformou na fábrica do mundo, inicialmente pelo baixo custo de mão de obra e depois também pela alta produtividade e pela tecnologia que aprendeu a desenvolver. Com a crise atual, a concentração na China da produção de uma série de insumos das cadeias globais provocou a interrupção de indústrias no mundo, inclusive no Brasil. A China é a maior fornecedora de autopeças para o Brasil, com US$ 13,2 bilhões importados no ano passado. Boa parte da eletrônica embarcada vem da China e 50% da frota brasileira hoje tem câmbio automático, que não é feito no país.
Na atual crise o mundo também percebeu que o setor de fármacos está concentrado. Talvez 80% dos insumos consumidos no Brasil venham da China e da Índia, que restringiu exportações para privilegiar seus cidadãos. Nos EUA, a importação de fármacos é de 72% e máscaras cirúrgicas são 95% importadas da China.
Quase três quartos dos anticoagulantes importados pela Itália vêm da China. O mesmo vale para 60% dos antibióticos importados pelo Japão e 40% dos importados por Alemanha, Itália e França. O governo japonês resolveu repensar toda a sua cadeia de fornecimento para ter, pelo menos, alternativas em outros países asiáticos. EUA fazem a mesma coisa, pensando primordialmente no México como alternativa. No Brasil, o Ministério da Defesa está estudando o problema. Pode ser oportunidade para o Brasil de atrair novas indústrias, se conseguir reduzir os custos e pode ser um baque, não se sabe ainda de qual tamanho, para a indústria chinesa.
Sobre o autor: Evandro Milet é consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente sobre inovação e negócios.
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