Não é fácil montar equipes

Uma das maiores dificuldades na gestão de empresas é contratar as pessoas certas. Nos exemplos relatados nos livros que contam a experiência de grandes empresas há uma diversidade de conselhos e sugestões de critérios, mas a verdade é que muitas vezes só se percebe erros e acertos depois de um tempo. A adequação da pessoa à empresa depende não só das suas características, mas também muito do tipo de trabalho demandado, da cultura da empresa e da liderança tanto na área específica como na alta cúpula. 

Diz uma máxima que devemos contratar caráter e treinar habilidades, mas não é fácil identificar caráter em entrevistas e dinâmicas. Beto Sicupira, do grupo que inclui a Ambev, diz, por exemplo, que “as pessoas valem pelo que elas são capazes de fazer, e não por aquilo que elas conhecem”. No seu grupo eles procuram pessoas com faca no dente e brilho no olho, vontade de trabalhar muito e estar dispostos a sacrificar a vida pessoal. A cultura é a estratégia nesse caso. E aceitam pessoas diferentes porque “é mais fácil segurar um louco que empurrar um burro”, como ele já disse.

De outro lado, o guru Peter Drucker afirmava que “um bom chefe faz com que homens comuns façam coisas incomuns”. Drucker foi um grande pensador em gestão e percebeu que as empresas precisam de quatro tipos diferentes de pessoas: pessoas de idéias, pessoas de ação, pessoas de gente e pessoas de frente. Fica mais para time de futebol que tem gente que cria jogadas, outros que fazem gols, os que sustentam a defesa e os carregadores de piano. 

Conceitos de Steve Jobs e de Reed Hastings da Netflix se parecem com a lógica dos times de futebol – e de esportes em geral – quando o melhor programador não vale dez, mas cem vezes mais  do que um programador mediano e em todas as funções criativas, o melhor é de longe dez vezes melhor do que a média. Planos de cargos e salários convencionais implodem a gestão disso. Na Netflix, o importante é criar o ambiente, porque pessoas com alto desempenho prosperam especialmente em ambientes em que a densidade de talentos geral é alta. Para isso pagam o salário mais alto do mercado para cada caso, antes mesmo da pessoa pedir.

Jeff Bezos, da Amazon, gosta de pessoas que saibam mudar de ideia, saibam ouvir e sejam abertas às novidades. Para ele “as estrelas podem ser dissidentes, um pouco radicais, um pouco rebeldes”. Na contratação de pessoas ele já pediu: “Tragam-me os esquisitos”. 

Em uma pesquisa, empregadores relataram que “a capacidade demonstrada de um candidato para pensar criticamente, comunicar-se com clareza e resolver problemas complexos é mais importante do que seu curso de graduação”.

Outros critérios são usados. Na Google prefere-se generalistas inteligentes aos especialistas. E agora todos procuram pessoas com a alma digital.

Na minha experiência pessoal, ficam na cabeça algumas características adicionais que chamaram a atenção em pessoas muito bem avaliadas em determinadas situações. Essas características eram expressas informalmente em linguagem coloquial como, por exemplo: seguram o touro pelo chifre, pode entregar na mão que a coisa sai, entrega mais que a encomenda, sai do outro lado, não deixa furo, adivinha o que você quer, não precisa revisar o que escreve, pode me representar que não vai falar besteira, não fica segurando informação ou é pau para toda obra.

Mas o problema é que só se descobre isso depois.