Em 1965, Gordon Moore, um dos fundadores da Intel, fez uma das maiores sacadas do mundo digital. Ele previu que a capacidade de processamento e armazenamento dos chips dobraria a cada 18 meses. Isso tem acontecido sistematicamente há mais de 50 anos( os computadores quânticos prometem agora quebrar essa tradição, com sua computação não binária).
Desde 1965 vivemos então um normal no mundo digital: a convivência com uma exponencial que coloca no nosso bolso a capacidade de processamento dos supercomputadores do final do século passado, leva o custo de armazenamento de informações para quase zero e permite comunicações quase instantâneas como estamos presenciando com o 5G.
Essa infraestrutura criou coisas fantásticas que surpreendem mesmo aqueles que convivem desde sempre como eu, quase junto com o Gordon Moore, com novidades surpreendentes todas as semanas.
Verdade que durante anos, aqueles que tentaram prever o futuro costumavam subestimar o que acontecia com o hardware e superestimar o que acontecia com o software. Parece que isso foi superado pela dinâmica do capitalismo de startups que colocou milhões de empreendedores, em todo o mundo, a disponibilizar no mercado soluções digitais para todos os problemas e todas as dores do mundo. O espírito animal dos empresários, na forma digital, acelerou tudo, inclusive a destruição criativa de Schumpeter, talvez mais para hecatombe criativa.
Grandes empresas ou pelo menos grandes promessas, mesmo digitais recentes, algumas inclusive que costumavam ficar nas listas das maiores durante dezenas de anos agora sucumbem ou balançam seriamente uma atrás da outra. Já foram engolidas Kodak, Xerox, Motorola, Nokia, Blockbuster, Macy’s, Sears, Yahoo, Blackberry, Orkut, Compaq, DEC, Sun, Sega, HP, Atari, muitas de aviação, muitos bancos e muitas do varejo.
Em 1970, completando agora 50 anos, foi lançado o grande best seller do futurismo, o livro “O Choque do futuro” do visionário Alvin Toffler. Ali, em paralelo com a exponencial de Gordon Moore, ele anteviu o correio eletrônico, a mídia interativa, os chats, as videoconferências, o trabalho em casa e criou a figura do prosumidor, mistura de consumidor com produtor, popularizada nos auto serviços e até no mundo maker atual. Toffler inclusive afirmou a verdade repetida sem paternidade hoje que “ o analfabeto do século 21 não será aquele que não souber ler e escrever, mas aquele que não souber aprender, desaprender e reaprender”
Ele previu o trabalho em casa, a economia compartilhada para usar em vez de possuir, a sobrecarga de informações propiciada pela proliferação de computadores pessoais e redes, os assistentes pessoais digitais e a adhocracia, uma maneira de organização de empresas sem estrutura formal como aliás funcionam muitas startups hoje.
Duas de suas previsões, contestadas por críticos durantes tempos, caem como bomba em tempos de pandemia: ele previu que as cidades perderiam importância com a migração do trabalho dos escritórios e fábricas para as casas e que a sobrecarga de informações e dados provocariam isolamento social. Pode não ser definitivo, mas está acontecendo com muita gente querendo morar em lugares mais ecológicos e trancados em casa.
O fato é que o nosso normal, de viver a exponencial do mundo digital, foi disruptado(existe isso?) e a curva acentuada virou vertical de repente, com a pandemia provocando uma antecipação de futuros. Coisas que a exponencial digital traria em 5 ou 10 anos foram jogadas na necessidade do presente e aceleradas na educação, saúde, trabalho, lazer, justiça, governo, comércio e todo o resto.
Muita gente considera a expressão “O Novo Normal” como algo estanque ou acomodado. Nada mais equivocado. Não tem sido assim por 50 anos e continuará não sendo. Mas queremos nossa curva exponencial de volta, já acostumamos com ela. Esse será o nosso novo normal, já incorporado das descontinuidades da pandemia, isto é, provavelmente.
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