Nos confrontos pelas redes sociais e pela imprensa, o uso enfático das palavras depende do lado que se está. Quando a popularidade do adversário diminuir é melhor dizer que despencou. No orçamento é melhor rombo do que déficit. Para situações confusas fica mais contundente falar em caos. Uma crítica contra um adversário tem de ser devastadora ou demolidora, ou que ele foi esmagado, trucidado, desmascarado, destroçado ou reduzido a pó. Se o adversário foi vaiado, fica mais depreciativo dizer que foi esculachado, escorraçado ou enxotado pela população, mesmo que tenham sido apenas uns poucos( fica melhor “uns gatos pingados”). Aglomeração de adversários pode ser escória, canalhas ou bando de vagabundos. Argumentos estranhos, chame de bizarros, grotescos, estapafúrdios ou descalabro e fique estarrecido. Sobre uma proposta do adversário, fale em aberração, estupidez, indecorosa ou delirante. Pode-se tentar uma resposta elegantemente arrasadora(isso!) como o Ministro Luís Barroso em reação a críticas feitas por Gilmar Mendes a supostas decisões incorretas suas: “O senhor é a mistura do mal com o atraso e pitadas de psicopatia.” Um comentário tolo pode ser irrelevante, medíocre ou babaca, palavra forte que ganhou manchetes em “Lula está preso, babaca”. Para um homofóbico, machista e misógino, é melhor falar boçal ou repugnante, palavras que embrulham mais o estômago(boa!). Quebra-quebra em manifestações feita por vândalos é muito elegante. Fascistas fica melhor, é pouco definida, mas definitiva. Aliás, fascista é todo aquele que discorda veementemente de você, principalmente se houver xingamento. Nas redes sociais, se estiver muito revoltado, escreva com maiúsculas. Soa como grito, embora seja falta de educação digital.
Se a discussão envolver gestão de cidades, buraco na rua é cratera, vazamento de tubulação pode ser chafariz ou cachoeira, falta de luz é apagão e viaduto não cai, desaba.
Para elogiar use imagem superlativa, mesmo que esteticamente deprimente(gostei dessa) como a filósofa petista Marilena Chauí: “Quando Lula fala, o mundo se ilumina”. Na Roma antiga, Cícero já dizia: “Não há cretinice que já não tenha sido escrita por um filósofo.” Ou gravada em vídeo, diria ele se vivesse hoje e visse os vídeos do guru filósofo.
Na história já se tentou, à direita e à esquerda, chamar golpe militar de revolução, ditador de presidente, ditadura de governo autoritário, assassinato de justiçamento, corporativista de progressista, torturador de herói e roubo de desapropriação. Enfim, palavras são armas para serem sacadas conforme a ocasião.
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