Jararaca ancestral

Há 6 milhões de anos, uma fêmea primata teve duas filhas. Uma delas se tornou a ancestral de todos os chimpanzés; a outra é nossa avó. Por uma mutação genética, um primata conseguiu caminhar ereto sobre duas pernas, liberando os braços e as mãos, desnecessários para locomoção, para outros propósitos aperfeiçoados com a evolução, como atirar pedras, caçar ou fazer ferramentas.

O excelente livro “Sapiens: uma breve história da humanidade”, conta a nossa evolução até hoje e a projeta para o futuro. Mostra que o grande salto do Homo Sapiens se deu graças a sua linguagem única, há 70.000 anos, que caracterizou a Revolução Cognitiva.

Todos os animais têm uma linguagem, alguns de forma vocal, como os macacos. Por exemplo, macacos-verdes usam vários tipos de grito para se comunicar. Os zoólogos identificaram um grito que significa: “Cuidado! Uma águia!”. Um grito um pouco diferente alerta:”Cuidado! Um leão!”. Quando uma gravação do primeiro grito foi reproduzida para um grupo de macacos, eles olharam para cima assustados. Ao ouvir a gravação do segundo grito, o grupo subiu rapidamente em uma árvore. Mas eles conseguem até fazer molecagem na sua linguagem. Já se observou um macaco-verde gritando:”Cuidado! Um leão!” quando não havia leão nenhum por perto. O alarme falso afastava outro macaco que tinha acabado de encontrar uma banana, que ficava com o mentiroso.

Mas a característica única da nossa linguagem não é sua capacidade de informar sobre leões ou águias, mas sobre coisas que não existem. Além das mentiras, falar sobre ficções e criar uma realidade imaginada. Lendas, mitos, deuses e religiões apareceram com a Revolução Cognitiva que depois nos permitiu falar em leis, governos, política, empresas, filosofia ou ideologias.

Mas tem gente hoje que abusa dessa ficção ou realidade imaginada. “Se eu for condenado, não vale a pena ser honesto no Brasil”, disse Lula recentemente. À semelhança do nosso macaco esperto, distrai as esquerdas enquanto faz acordos estranhos com bolivarianos, africanos e políticos corruptos. Ridiculariza a acusação sobre pedalinhos, sítio e triplex para distrair a opinião pública sobre os muitos milhões que saíram da Petrobras, da qual era o comandante supremo. Grita acusando os acusadores de perseguição. Bota a culpa da recessão e do desemprego no zumbi do Temer ou na Lava-Jato, como se não tivesse nada a ver com isso. Fala em golpe que não existiu. Critica a reforma trabalhista dizendo que tira direitos sem dizer quais. Demoniza a previdenciária que ele mesmo defendeu um dia. É melhor gritar: ”Cuidado! Uma jararaca!”.

Sobre o autor:

Evandro Milet é consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente sobre inovação e negócios.

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