Não há como falar da Alibaba, a maior empresa de capital aberto da Ásia, sem falar no seu fundador, Jack Ma, originalmente Ma Yun. Até hoje, os chineses têm o hábito de escolher o próprio nome ocidental. O dele – Jack – foi dado por um turista a quem serviu de guia com 15 anos, como primeira atividade profissional, em troca de aulas de inglês, logo depois da visita de Nixon à sua cidade natal em 1972. Com isso conheceu gente do mundo todo e percebeu que o mundo que os turistas contavam era muito diferente do que aprendia nas escolas e com seus pais.
Sua história e a da Alibaba são contadas por Ricardo Geromel, no seu livro O Poder da China.
Jack Ma é idolatrado na China. Geromel, brasileiro que mora lá e cobre bilionários para a revista Forbes, arrisca dizer que se houvesse eleições diretas e ele se candidatasse, ganharia no primeiro turno – se Xi Jinping não fosse o rival. Vai ver que foi por isso que deram um sumiço nele recentemente.
Quando criança ele gostava de colecionar grilos e fazê-los lutar, o que era proibido durante a Revolução Cultural, que também ameaçou seus pais porque amavam pingtam, arte tradicional chinesa que mistura canto e comédia para contar histórias. Dizem que ele é um batalhador e bom orador por causa disso.
Jack nunca foi aluno brilhante, o que não lhe deu oportunidade de estudar em nenhuma universidade de ponta. Com 1,65m de altura e uma cabeça desproporcionalmente grande, não é um padrão de beleza, mas sua esposa diz que se apaixonou por ele porque “é capaz de fazer o que muitos homens lindos não conseguem”.
Indo contra a norma da China, disse aos filhos: “Vocês não precisam ser um dos três melhores da sua classe, está tudo bem se estiverem no meio, desde que suas notas não sejam ruins demais. Apenas esse tipo de pessoa, aluno com notas médias, têm tempo livre suficiente para aprender outras habilidades”.
Jack conta que se candidatou para trinta empregos e foi rejeitado por todos eles e foi rejeitado por Harvard mais de dez vezes, mas não desistia. Aliás, como promotor fervoroso do empreendedorismo, já famoso, disse para estudantes de Harvard: “Vocês estão jogando o seu tempo fora aqui”.
O nome Alibaba veio com a ideia do “Abre-te Sésamo”, senha secreta do conto Ali Babá e os 40 ladrões para acessar um tesouro secreto. Ele queria abrir acesso para pequenas e médias empresas. E assim foi criado o site de e-commerce para conectar pequenas empresas da China com compradores online.
Quando recebeu seus primeiros 20 milhões de dólares da Softbank não tinha um plano de negócios nem faturamento. “Mas tinha aquele brilho nos olhos”, conta Masayoshi Son, o homem mais rico do Japão e dono dessa investidora em tecnologia.
Em 2014 fez o maior IPO da história na bolsa de NY, levantando mais de 25 bilhões de dólares. Mas quem tocou o sino e posou para fotos foram os clientes e não ele, exemplificando um dos valores da empresa: “ Clientes primeiro, funcionários em segundo e acionistas em terceiro”.
Pós-Alibaba, ele estima que 60% do seu tempo será dedicado à educação e ao empreendedorismo. Os outros 40% serão “para coisas que aparecem do nada, que são muito interessantes”. O homem mais rico da China sabe da força da serendipidade.
Em novembro de 2018 foi revelado que Jack Ma é membro do Partido Comunista, aliás como 90 milhões de chineses ou 7% da população. Quando perguntado sobre o partido, costuma responder: ”Se apaixone pelo governo, mas não se case com ele”.
Provavelmente a esposa tem razão.
Por Evandro Milet – Consultor em inovação e estratégia e líder do comitê de inovação do Ibef/ES
Publicado em A Gazeta em 09/07/2022