Empresas inovadoras são, quase sempre, dirigidas por líderes inovadores. Conclusão: se você quiser inovação, precisará ter competências criativas na equipe de alta direção de sua empresa. Inovadores pensam diferente, mas também agem diferente. O livro DNA do Inovador, de Clayton Christensen e outros, identificou as cinco competências que distinguem os inovadores dos executivos típicos e afirma que essas características, que são inatas em alguns, podem ser aprendidas e praticadas. São elas: associar, questionar, observar, cultivar o networking e experimentar. O pensamento associativo coleta, organiza e dá sentido às informações captadas pelas outras quatro competências, gerando as inovações.
Vou abordar aqui hoje apenas a competência de questionar, algo que a nossa cultura costuma nos impor barreiras. Os dois grandes fatores que inibem as perguntas são: ter receio de parecer ignorante e não querer ser visto como uma pessoa desagradável ou que não gosta de colaborar.
O primeiro fator se desenvolve na escola, para não parecer pouco inteligente e ser zoado pelos colegas. Principalmente, refreamos as perguntas mais disruptivas, justamente aquelas que levam mais tarde às inovações mais revolucionárias.
O segundo fator fica potencializado se o questionamento for para um superior hierárquico que se mostre inseguro, alguma estrela vaidosa ou quem se considere “pai” de uma ideia estabelecida – pais não gostam de ouvir críticas aos filhos, normalmente.
Como o livro mostra, os grandes indagadores têm um alto nível de autoestima e humildade suficiente para aprender com qualquer pessoa, mesmo com aqueles que supostamente sabem menos do que eles. Inovadores são grandes questionadores e mostram paixão pelo ato de perguntar. O que, como, onde, por que, quando, e se, por que não, são expressões comuns na cabeça dos inovadores. Querem saber porque as coisas são assim e porque não de outra forma.
A pesquisa apresentada no livro, baseada na análise de comportamento de inúmeros executivos, mostrou que os inovadores fazem mais perguntas que os não inovadores e fazem perguntas mais provocativas. Fazer muitas perguntas aos clientes é importantíssimo para produzir soluções poderosas para os problemas.
Na Toyota foi criado o processo dos cinco “por quês” sucessivos para desvendar cadeias de causas e chegar a soluções inovadoras. Os programas de qualidade difundiram a ferramenta do 5W1H(Why, What, When, Who, Where, How) para diagnósticos e planos de ação, institucionalizando os questionamentos. Entretanto, em uma palestra, certa vez, um questionador gaiato funcionário de governo, me disse que lá só funcionava o 5N1T, e traduziu: Não, Nada, Nunca, Nenhum, Ninguém e Talvez. Tudo bem, bom humor faz parte.
No lado sério, os autores descobriram também que os inovadores têm muito mais chances de lançar com sucesso produtos ou negócios inovadores quando combinam o ímpeto de perguntar com as outras competências do DNA do Inovador. Em outras palavras: perguntar enquanto observam, perguntar enquanto conversam com seu network, perguntar enquanto experimentam e quando estão tentando associar tudo.
Perguntas provocadoras feitas por inovadores alargam limites, crenças e fronteiras. E todos podem aprender a fazer isso.
Publicado no Gazeta online em 05/06/2021
https://www.agazeta.com.br/colunas/evandro-milet/inovadores-perguntam-tudo-sem-constrangimento-0621