Conta-se que um garçom atrapalhado, em uma antiga churrascaria de beira de estrada, trocou os pedidos nas mesas e acabou agradando aos clientes ao servir vários cortes de carne diferentes para cada um. Gaúchos e paulistas disputam a origem dessa história e a criação de um novo modelo de negócios, a churrascaria rodízio, que inclui a velocidade de atendimento, os acompanhamentos padrão, o buffet de frios, o carrinho de sobremesa e o preço único.
“Modelo de negócio” é a forma com que a empresa age em si, como ela cria, entrega e captura valor. Ou, de forma mais simples, quem paga o que, para quem, por quê e como.
Podem ser inovações disruptivas que modificam um padrão de concorrência e impactam um ou mais mercados, como muitas inovações dessas que puderam aparecer quando a tecnologia permitiu. É o caso do Uber, do AirBnb e do iFood, por exemplo, que criaram uma plataforma multilateral que aproxima dois tipos de clientes. Ou o marketplace, popularizado pela Amazon, que abriga lojistas diversos com ofertas em paralelo com os próprios fornecedores negociados com a Amazon. A vantagem para os pequenos é evitar de montar o seu próprio ecommerce, embora possa custar caro ficar dependente de um marketplace.
Fundamental é ter uma proposta de valor que efetivamente resolva uma dor do cliente, ou que atenda a um desejo.
Há modelos de negócio inovadores fora do mundo digital. Em Colatina, dois irmãos transformaram um sacolão popular de frutas e verduras em um sofisticado mercado de produtos premium, com ar condicionado e estacionamento. O Hortifruti se espalhou pelo país como uma marca de sucesso.
Um modelo de negócios já bastante conhecido é a franquia, em que o franqueador cria um padrão de serviço e habilita franqueados, que pagam royalties e recebem treinamento e apoio. Pode ser escalável, sem eventualmente ser digital e tem um efeito interessante de levar para cidades menores um padrão de excelência que serve de exemplo para outros comerciantes locais.
Outro modelo de negócio antigo é o chamado isca e anzol, como os aparelhos de barbear vendidos a preços razoáveis e que fidelizam o cliente com as lâminas. Serve para as modernas cápsulas de café e para os cartuchos de tinta de impressoras.
No mundo do software se espalhou a ideia do SaaS – Software as a Service, onde produtos anteriormente vendidos viraram serviços, usualmente direto da nuvem. Aliás, há uma grande tendência da comercialização de produtos se transformar em serviços com uma receita recorrente para o fornecedor e a garantia de atendimento próximo para o cliente.
É o tal “Everything as a Service”.
Algo próximo disso é a assinatura, como os jornais e revistas fazem há tempos e vale hoje para automóveis ou vinhos, como a Wine.com criou no formato de clube. Ou aqueles totalmente digitais como os serviços de streaming dos conhecidos Netflix e Spotify, dentre outros concorrentes. O Spotify, como outros, usa a variação freemium, junção de “free” com “premium”, na qual a empresa oferece um serviço gratuito inicialmente, podendo evoluir para o pagamento.
Os serviços digitais podem usar outro tipo de classificação, como B2B (Business to Business), B2C (Business to Customer), B2B2C (Business to Business to Customer) ou outras variações menos utilizadas. De fato, cada modelo de negócios podem ser composto por um conjunto de variações.
Cada negócio terá que encontrar o seu modelo e quanto mais inovador e mais forte for a proposta de valor, maior será a possibilidade de se destacar no mercado.
Publicado em A Gazeta em 30/10/2021