Gol de mão não, Vale

Se a Vale estivesse disputando a Copa do Mundo, esse lance mereceria consultar o árbitro de vídeo, para marcar penalidade máxima. Concessionárias de ferrovias poderão renovar contratos que vencem em meados da próxima década por mais 30 anos. Em troca, as empresas construirão outras ferrovias que serão licitadas pelo governo. Esse é o caso da Vitória-Minas que traz o minério de ferro e outras cargas até o Porto de Tubarão. Existe uma demanda de construção da ferrovia EF-118, ligando Vitória ao Rio, já estudada pelos governos dos dois estados e com participação da Vale. Porém, surpreendentemente, o Governo Federal anuncia que fará a FICO(Ferrovia de integração Centro-Oeste) em Mato Grosso e não a EF-118, ao contrário do anúncio feito em 2016 pelo Presidente da Vale na época, Murilo Ferreira, ao Governador Paulo Hartung, demonstrando ter poder na decisão. Alguns poderão dizer que a decisão é do Governo Federal e não da Vale, mas até os dormentes da Vitória-Minas sabem que a Vale estudou e fez a opção pela ferrovia de Mato Grosso influenciando o Governo Federal. Essa ferrovia gera cargas para a Ferrovia Norte-Sul operada pela VLI, subsidiária da Vale, com destino ao porto da VLI no Maranhão. Em outras palavras a Vale manteria a Vitória-Minas por mais 30 anos e faria com essa benesse outra ferrovia de seu interesse, isto é, ganharia duas vezes.

Vários problemas se manifestam nessa decisão. Primeiro, a extensão da concessão deveria ser feita por interesse público e não por interesse de uma empresa privada. Segundo, existem opiniões de especialistas de que o valuation dessa concessão, bem como da Ferrovia Carajás que passa pelo mesmo processo, juntas poderiam cobrir até as duas ferrovias, e certamente o TCU não vai deixar passar avaliações subdimensionadas. Terceiro, o investimento deveria ser feito prioritariamente na malha cuja concessão está sendo estendida, no caso a Vitória-Minas.

A EF-118 amplia as opções logísticas do país, permitindo acesso ao Porto Central em Presidente Kennedy e ao Porto do Açu no Rio, dois mega empreendimentos privados que merecem o apoio governamental como geradores de negócios, impostos e empregos. No futuro, a EF-354 prevista para ligar essa ferrovia ao centro-oeste abriria mil possibilidades para o país e o Porto Central pode ser um ativo estratégico alternativo ou complementar da Vale para Tubarão.

A Vale tem muitos créditos, mas também uma dívida social, ambiental e econômica conosco no pó preto e na paralisação da Samarco, porém mudanças recentes rebaixaram a prioridade e a presença da Diretoria no Estado.

Sobre o autor:

Evandro Milet é consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente sobre inovação e negócios.

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