“Nós, escritores, pintores, escultores, arquitetos, apaixonados amantes da beleza de Paris, até agora intacta, protestamos com todas as nossas forças, em nome do gosto francês renegado, contra a construção, em pleno coração de nossa capital, da inútil e monstruosa Torre Eiffel”. Essa foi a reação dos principais artistas e intelectuais franceses ao anúncio de construção da Torre em 1889, como a peça central da Exposição Universal de 1889, comemorando os 100 anos da Revolução Francesa. Foi um marco também tecnológico na época, como uma construção em ferro e de uma altura que exigiu cálculos sofisticados. A monumentalidade da obra quebrou logo as reações negativas e hoje é o monumento pago mais visitado do mundo. Cada ano 7 milhões de pessoas visitam a Torre, e 75 % deles são estrangeiros.
Não foi a única vez que Paris foi confrontada com obras fantásticas e com reações extremadas. O Centro de Artes e Cultura Georges Pompidou, com alguma semelhança com uma refinaria de petróleo, chocou cabeças conservadoras e a pirâmide do Louvre, com seu contraste entre o antigo e o novo, foi criticada até como a tentativa do então Presidente Georges Pompidou de construir a sua própria pirâmide, como um faraó.
Em São Paulo há também um exemplo clássico: o pórtico do capixaba Paulo Mendes da Rocha, erguido no meio da praça do Patriarca, no centro histórico da cidade. O átrio metálico, com 40 metros de vão, marca os limites entre o centro velho e o novo.
Essa associação entre exposições temporárias, como a Exposição Universal de 1889, e entre o antigo e o novo, em projetos que embelezam e valorizam uma cidade vêm à mente, guardadas as devidas proporções, quando lembro, entre outros, dos exemplos marcantes da Casa Cor nos galpões do Porto de Vitória e no Clube de Regatas Saldanha da Gama, com a vista deslumbrante do Penedo. De alguma forma sempre aparecem os comentários que pedem pela preservação intacta de locais que pouca gente conhece e visita.
Neste ano de 2022, a ideia da Casa Cor é reunir história e inovação, e a promessa é criar um novo ambiente espetacular no Forte São Francisco Xavier da Barra, localizado no 38º Batalhão de Infantaria em Vila Velha. A história do Forte remonta à chegada do donatário Vasco Fernandes Coutinho em 1535, com a construção de um fortim no local e a construção da estrutura circular atual em 1700 para proteger a baía de Vitória de invasores estrangeiros. O local tem história, sendo inclusive local de visita de Dom Pedro II ao Espírito Santo em 1859.
No projeto vencedor de um concurso, as arquitetas Natiele Dalbó e Patrícia Palhano propuseram, preservando toda a estrutura e o patrimônio histórico, uma cobertura em estrutura metálica, no formato de uma vela para remeter às caravelas e um mirante com um piso de vidro projetado sobre a natureza, de dar vertigem, que certamente se tornarão objeto de atração turística. A vista privilegiada da terceira ponte e da baía de Vitória e uma cafeteria no local darão aos visitantes conforto e serão complemento às áreas de exposições permanentes e temporárias e as instalações para apresentações musicais.
Vila Velha e o Espírito Santo necessitam de projetos como esse, que associam o histórico ao novo e que colocam no mapa turístico um monumento importante, ainda muito menos conhecido e visitado do que merece. Vem se juntar ao Convento da Penha, ao sítio histórico e ao Distrito Criativo Prainha, formando um território de alto potencial turístico.
Vila Velha e o Espírito Santo merecem.
Publicado em A Gazeta em 13/08/2022