Fatos e opiniões

Daniel Moynihan, político americano, disse certa vez que as pessoas podem ter suas próprias opiniões, mas não os seus próprios fatos. Em um lado, opiniões sobre bolsa-família oscilam entre a rejeição depreciativa e a disputa da paternidade como se não fossem posturas opostas. O outro lado rejeita ter dado continuidade à política econômica anterior enquanto faz política social impossível sem a estabilidade alcançada e mantida sem muita convicção.

A notável capacidade de formulação dos economistas de um lado, cuja obra-prima é a criação da URV e o fim instantâneo da inflação, não alcança a sensibilidade do outro para as demandas populares emergenciais -com efeitos eleitorais imediatos- que fizeram avançar o aumento temerário do salário mínimo acima da inflação e a expansão do bolsa-família. Ao mesmo tempo erros, oportunismos e ranços ideológicos impediam a continuidade das reformas necessárias e atrasavam por vários anos as concessões e os leilões de petróleo.

Um lado tem a capacidade de formulação e execução de políticas estruturantes como o programa de concessões e a criação das agências reguladoras, com a coragem de aprovar reformas difíceis e programas de austeridade como a lei de responsabilidade fiscal, o fechamento do ralo dos bancos estaduais e o Proer, que blindou a economia da crise de 2008.

No outro, problemas do bolsa-família com erros e dificuldade de saída não tiram o mérito do efeito social e regional que provocou, considerando o baixo custo. Como solução emergencial, na falta de algo mais estruturado, vale trazer médicos seja-de-onde-for para resolver certamente 80% dos problemas que acontecem nesses grotões aonde ninguém quer ir. Valem também as ações afirmativas, como as cotas raciais, que resgatam uma dívida de 500 anos e devem ter precedência até sobre a meritocracia por algum tempo.

Na imprensa e nas redes sociais, fundamentalistas do livre mercado rejeitam ações estatais em problemas emergenciais, como se o empresariado resolvesse esses problemas com a mão invisível: não resolve. No extremo oposto, fundamentalistas do estado onipresente rejeitam o lucro, justificado pelo risco, que gera os empregos e a riqueza e sonham com um estado provedor de soluções grandiosas, porém fugindo das intervenções dolorosas.

Está na hora de encarar os fatos e reconhecer o que funcionou, com coragem e sem constrangimentos nem desonestidade intelectual. O verdadeiro campo progressista hoje é aquele que destrava o ambiente de negócios para um rápido e consistente crescimento enquanto inclui no menor tempo o máximo de pessoas.

Evandro Milet é empresário