Estrutura metálica: a construção civil ainda na idade do tijolo empilhado

Em 1931 foi inaugurado em Nova York o então edifício mais alto do mundo, o Empire State Building, construído em apenas um ano e 45 dias com 50.000 vigas de aço na estrutura. A construção em estrutura metálica permite uma arquitetura mais leve, com redução do peso total, e também das cargas na fundação, colunas mais estreitas e vãos maiores, maior limpeza no canteiro de obras e redução de ruídos. 

A utilização do aço facilita a industrialização do processo com partes montadas fora do canteiro e encaixadas como um grande lego, reduzindo o tempo da obra com todos os reflexos financeiros positivos que se possa imaginar. Com o aço, o entulho da obra deixa de existir ou é reciclado. Por serem mais leves, as estruturas metálicas podem reduzir em até 30% o custo das fundações.

E por que então, depois de tanto tempo,  se usa muito pouco ainda a estrutura metálica no Brasil? O manicômio tributário é uma das causas. Se tudo for feito no canteiro paga-se menos imposto do que um processo industrial inteligente. Se for no canteiro paga ISS, e se quiser ser mais inteligente tem que pagar ICMS. Segundo o CBCA, 148% a mais de imposto, o que torna a construção metálica 48% mais cara que a de alvenaria. Cálculos feitos mostram que uma equalização dos impostos traria essa diferença de custo para 20%, compensados pela velocidade da obra, menos barulho e sujeira, além do aço ser infinitamente reciclável. Há esperança que a reforma tributária em processo de aprovação no Congresso venha resolver o problema, facilitando o uso geral de pré-moldados na construção e reduzindo o retrabalho. 

Outra causa da pouca utilização do aço é o desconhecimento e pouca familiaridade em geral de engenheiros e arquitetos com essa alternativa. Das universidades federais apenas duas, no Espírito Santo e Minas Gerais, têm tempo equivalente da utilização de aço e concreto armado nos cursos de engenharia e arquitetura. A ArcelorMittal tem patrocinado cursos para arquitetos e pretende estendê-los para outros estados.

Outra causa ainda é a alta informalidade e pouca capacitação da mão de obra no setor, onde a estatística aponta para 55% dos 10 milhões de trabalhadores na construção civil nessa situação.

A utilização do aço fica um pouco escondida para leigos que acabam não sabendo que a belíssima nova Ciclovia da Vida, na Terceira Ponte,  ligando Vitória e Vila Velha, foi feita com 2.700 toneladas de aço capixaba com grande agilidade no processo de construção. Devido à proximidade ao mar, foram levantadas preocupações em relação à utilização do aço nesse ambiente agressivo. Porém, a proteção do aço é garantida com aplicação de revestimento adequado com pintura, o que promove maior vida útil para a estrutura. Afinal, navios não são construídos em concreto armado. O problema da corrosão é resolvido com tecnologia adequada. Aliás, o vão central da Terceira Ponte, em 1989, foi feito em aço.

A construção civil tem avançado na utilização de softwares BIM – Building Information Modelling, equipamentos com tecnologia e certificações sustentáveis, mas permanece na idade do tijolo empilhado na estrutura, principalmente para edifícios. Segundo uma pesquisa da McKinsey em 2019, a construção civil só fica na frente da pesca em desenvolvimento tecnológico em um comparativo entre setores. E não só no Brasil.

O Espírito Santo poderia ser um grande centro irradiador dessa tecnologia para o país, unindo empresas construtoras, fornecedoras, escritórios de engenharia e arquitetura e  academia. Fica a ideia.

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Publicado no Portal ES360 em 19/11/2023