Em entrevista no Valor, o festejado economista Tomas Piketty contou que esteve em Moscou em 1991, ano da derrocada da União Soviética e ficou espantado com as filas na frente das lojas. Voltou vacinado contra o comunismo. Como é que essas pessoas tinham ficado com tanto medo da desigualdade do capitalismo nos séculos XIX e XX a ponto de criarem tal monstruosidade? Como podemos enfrentar a desigualdade sem repetir esse desastre?
No Brasil, o debate ideológico, que ficava restrito às pessoas envolvidas diretamente com a política, ganhou as ruas e as redes, porém com um maniqueismo de direita e esquerda, ignorando as opções de centro.
Se eliminarmos os extremismos das ditaduras de esquerda e direita e nos mantivermos na faixa da democracia, podemos tentar caracterizar melhor as nuanças ideológicas. A esquerda tem a preocupação com a igualdade entre as pessoas refletida na frase que sintetiza a visão comunista: “de cada um conforme a sua capacidade, a cada um conforme a sua necessidade”. Para essa visão utópica é necessário um governo forte e uma economia estatizada. Hoje, mesmo que aceite a propriedade privada e a economia de mercado, a esquerda tenta controlar esses aspectos incentivando ou aceitando invasões e amarrando a economia com desconfianças contra empresários e paranoias com “o mercado” e as multinacionais. Enfim, gosta de distribuir mas não entende como se gera riqueza.
Há variações como a esquerda populista, com visão primária da economia e políticas de distribuição de curto prazo, enquanto considera como de direita as políticas que impedem gastar mais do que se arrecada e que possibilitam um desenvolvimento duradouro.
Por outro lado, a direita entende que as pessoas são desiguais, os governos devem ser mínimos e a distribuição se dará pela geração de empregos e pelo mérito de cada um.
A visão de centro, mais à esquerda ou à direita, dá total ênfase ao empreendedorismo, a propriedade privada e à meritocracia mas entende a necessidade da redução das desigualdades. Por isso, um programa como o Bolsa Escola, iniciado em âmbito federal no governo FHC, é importante, ao permitir igualdade de oportunidades não mais aos pais, mas aos filhos. Ao tirar a ênfase na escola e transformá-la em Bolsa Família o populismo deturpou a iniciativa, como denuncia muito bem o Senador Cristovam Buarque. Mesmo assim é um programa barato e de muito efeito.
Qualquer governo que suceda este governo populista deverá se preocupar com um programa de igualdade de oportunidades e de redução das desigualdades sob pena de induzir a volta dessa desgraça incompetente.
Evandro Milet
Consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente.
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