A escalada do ecossistema – história da inovação digital capixaba

O mundo digital capixaba pegou tração. Muita gente nova chegando para compor uma história que começou no século passado com Vale, Arcelor, Garoto, Aracruz, Prodest(antes Sercoop), Banestes, Ufes, entre outros, que criaram uma geração de empreendedores pioneiros, formados nos então CPDs e nos primeiros cursos de informática. Processos de privatização e terceirização deram força ao precário ecossistema de então, com alguns pioneiros organizados em torno da Sucesu.

A pegada mais inovadora vem com Álvaro Abreu e mais gente, criando a primeira incubadora em 1995, a Tecvitória, na esteira do sonho, incluído no PDU de Vitória, de reservar um espaço em Goiabeiras para um Parque Tecnológico, um ícone já badalado pelo sucesso do Vale do Silício. É da mesma época a atuação pioneira da rede Gazeta como provedor de internet, trazendo a novidade para o estado.

A Tecvitória, a essa altura, faz o papel de articuladora do ecossistema, indo além de incubadora. A Prefeitura de Vitória, através da CDV, junto com a comunidade, lança a Carta de Vitória, na iniciativa de criar um Pólo de Software, com a pretensão de ter uma marca que valorizasse as empresas locais, como àquela altura já acontecia com o Porto Digital em Recife.

A partir de 2005, o Sebrae se engaja fortemente no processo, em apoio à Tecvitória e na criação do Centro de Tecnologia 3D dentro dessa instituição. Essa iniciativa, que teve como mote preparar empresas para projetar máquinas, teve o mérito indireto de trazer uma empresa de Iconha que pretendia desenvolver um tear multifios para cortar granito, novidade na época. O projeto não deu certo, mas os empreendedores conheceram outra empresa, dentro da Tecvitória, e uma nova parceria deu origem ao estrondoso sucesso do Picpay.

Em 2006 houve tentativa do Sebrae de criar um fundo de capital de risco local, com apoio do Bandes, em um movimento que já acontecia na Finep e Bndes, mas o ambiente não estava maduro. Assim como não estava em 2011, na iniciativa de alguns abnegados para lançar o Vitória Investidores Anjos, de vida curta.

A Tecvitória continuava como centro de operações do ecossistema, criando um Escritório de Projetos que ajudou muitas empresas a captar recursos na Fapes e Finep.

O mercado ficou mais sofisticado com o sucesso nacional da Wine.com e com a parceria do Bandes com fundos de capital de risco que começaram a operar localmente. 

A Tecvitória assume o papel de incubador de incubadoras, abrigando a nova incubadora do Ifes na Serra, que forma uma leva de empresas inovadoras. A CBN abre o caminho para a inovação no rádio, seguida pelas mídias sociais e mais recentemente pela TV.

A difusão do capital de risco era um problema no Brasil com taxas de juros altíssimas que atraiam os capitais para a tranquilidade da renda fixa. A queda vertiginosa das taxas de juros no governo Temer desperta o espírito animal de empresários de outros setores no Brasil e aqui no estado. Todos sentem as aplicações perderem valor no banco e ouvem falar em unicórnios e dinheiros multiplicados muitas vezes e as startups explodem. Novas aceleradoras com a Azys e Brooder, depois da pioneira Start You Up, são investidas por empresários, formando uma onda de investidores anjo. 

O Ifes cria uma rede de incubadoras, as universidades particulares lançam novos cursos na área, empresas de TI transformam o sindicato em um marombado Action, Ufes faz sucesso com carros e aviões autônomos na parceria top com a Embraer e, de novo, uma incubada da Tecvitória, a Motora, e a Serra se mobiliza e cria seu Parque Tecnológico Inova Serra, que Vitória não conseguiu.

A difusão da inovação aberta traz as grandes empresas para o mundo das startups, lançando desafios e criando seus hubs e labs. O FindesLab é iniciativa marcante, assim como o ambiente maker do Senai, a forte atuação do Sebrae em apoio às startups, o iNO.VC da Arcelor e o Lab da Águia Branca.

O Vale da Moqueca como marca do ecossistema e a MCI – Mobilização Capixaba pela Inovação, como agregação de atores, sinalizam o novo rumo, na tentativa de usar o exemplo de Santa Catarina como modelo com suas verticais, que inspira o Base27, um agregador de inovações da construção civil e engenharia.

O novo fundo de 250 milhões com recursos do Fundo Soberano com a gestora Trivèlla e o Bandes vai turbinar o ambiente. Alguns chegam a duvidar se há projetos para tanto dinheiro, porém tudo no mundo digital cresce exponencialmente. Se não há onde investir hoje, haverá em poucos anos. O ecossistema escalou.

(Peço desculpas antecipadas por esquecer de citar fatos e instituições importantes. Foi o que a memória registrou e que o espaço permitiu.)