Quando imaginamos desenvolvimento industrial, as referências normalmente convergem para países grandes, com muita gente e muita capacidade de investimento, puxando a fila os Estados Unidos e a China. Mas, ao mesmo tempo, vemos uma série de pequenos países com alta capacidade industrial, tecnológica ou de logística, aparecendo muito bem nas estatísticas em alguns setores. Israel, Taiwan, Finlândia, Dinamarca, Holanda, Cingapura, Áustria e Suíça demonstram que não precisa ser grande para ter posição relevante em setores sofisticados. Pode ser em tecnologia de defesa, semicondutores, mecânica, automação, farmacêutica, biotecnologia, equipamentos industriais, construção civil ou nos serviços industriais. Importante registrar que todos esses países estão no topo do ranking em educação e capacidade de inovar. Esse é o grande e óbvio segredo.
Essa abordagem de usar o tamanho e capacidade de investir vale também para avaliar o potencial dos estados dentro do Brasil, onde São Paulo, Minas, Rio, Rio Grande do Sul e Paraná surgem na ponta da tabela de capacidade industrial.
Qual seria então a maneira de um estado pequeno como o Espírito Santo emular esses pequenos países na sua capacidade de aparecer bem no ranking nacional?
O Espírito Santo tem algumas características interessantes no seu processo de desenvolvimento. Desde 2003 o estado começou a aparecer bem no quadro de credibilidade do ambiente político, depois no equilíbrio das contas públicas, gerando admiração frente aos descalabros políticos e financeiros de alguns outros estados da federação e aparecendo bem nos rankings de educação e inovação.
Há alguns anos, convidei Sílvio Meira, grande mentor do Porto Digital em Recife, para uma palestra em Vitória. No almoço ele comentou que tínhamos no estado um grande diferencial favorável em relação a Pernambuco, tínhamos as grandes empresas que poderiam contribuir muito para o ambiente de inovação. De fato, a contratação de fornecedores locais por essas empresas não foi por acaso, mas fortemente articulada pelo PDF-Programa de Desenvolvimento de Fornecedores. Num primeiro momento, atendeu apenas serviços e produtos menos sofisticados, porém desaguou no crescimento de um conjunto de empresas de alto nível de competência técnica, gerencial e de inovação. Como exemplo, neste momento, 12 empresas do Estado respondem por quase 60% dos serviços nacionais da nova fábrica de celulose da Suzano no Mato Grosso do Sul. Na chegada dessas grandes empresas ao Estado, nem 1% dos serviços era contratado de empresas locais. Essa constatação mostra o papel modernizador e inovador das grandes empresas instaladas aqui. Esses e outros fornecedores são demandados para projetos em todo o país e no exterior.
Outro exemplo emblemático fica claro na atuação da ArcelorMittal. Inicialmente a aquisição da CST pela Arcelor e depois pelo Mittal gerou a preocupação que esse papel junto aos fornecedores se perdesse com a distância da governança. Pelo contrário, na recente aquisição da Companhia Siderúrgica do Pecém, no Ceará, o comando da nova empresa saiu daqui e já está levando os experimentados fornecedores locais para o novo ambiente. Se, no início dos grandes projetos, a mão de obra necessária foi importada de Minas, agora o ES exporta conhecimento. Aliás, há 40 empregados da AM espalhados pelo planeta, em instalações do grupo, levando esse conhecimento capixaba mundo afora.
Essa rede de pessoas e empresas competentes abriu ainda mais o ambiente de inovação do Estado com seus projetos de inovação aberta, com novos investimentos em hubs, labs, incubadoras, aceleradoras e coworkings, com novas fontes de financiamento e a expansão inovadora da academia.
Quem sabe poderemos fazer, no Brasil, o papel que os pequenos e inovadores países exercem no mundo. Os sinais estão por aí. E nossos filhos e netos não precisarão procurar oportunidades em outros estados ou no exterior.
https://es360.com.br/coluna-inovacao/post/es-um-pequeno-estado-exportador-de-conhecimento/
Publicado no Portal ES360 em 21/05/2023