Com essa frase, Deng Xiaoping iniciou o caminho da China para o capitalismo, depois da desastrada revolução cultural de Mao Tse Tung, responsável por milhões de mortos. Malgrado a ditadura, a China avançou na liberdade econômica, tirando milhões de pessoas da pobreza e gerando muitos milionários.
O pensador Bernardo Toro, na Veja(18/11/2015), registrou: “Os países latino americanos receberam, dos seus colonizadores, instituições já prontas, que diziam o que todos deveriam fazer, […] e criaram assim uma dependência do estado. Foi o contrário nos Estados Unidos, onde imigrantes, fugindo de perseguições religiosas, criaram instituições do zero, com forte componente empreendedor e valorizando as iniciativas individuais, a meritocracia e o lucro.”
No Brasil, o lucro não era percebido como eticamente correto, pelo perigo de ser confundido com a usura, condenada pela igreja. De onde vieram as inovações que aumentaram a expectativa de vida como remédios, cirurgias e equipamentos de diagnóstico? De onde vieram o automóvel, o avião, a eletricidade, o telefone, os eletrodomésticos e o computador, senão de iniciativas que visavam o lucro?
Não são iniciativas sonhadoras de amor ao próximo(embora úteis para a sanidade geral), que criam as inovações que aumentam a qualidade de vida e nem a produtividade, que permite a redução da pobreza e das desigualdades sociais. A imensa maioria dos milhões de jovens montando startups, que tentam resolver problemas, atender necessidades ou desejos, não o fazem por filantropia ou intenção de salvar a humanidade – querem ganhar dinheiro. O espírito animal de que falava Keynes e a destruição criativa de Schumpeter são os grandes motores.
Porém, se esse espírito animal ficar solto sem controles, poderá ser predador contra a natureza, contra outros seres humanos, contra a moral, a ética e a concorrência.
Esse equilíbrio é dado com a democracia, eleições frequentes, governo eficiente, imprensa livre, poderes independentes, justiça que funcione, liberdades individuais e, sobretudo, educação ampla e de qualidade, para gerar igualdade de oportunidades.
A dívida social de raça, gênero e renda, fruto de séculos de injustiça, tem de ser resgatada com ações afirmativas imediatas. Não podemos esperar outros séculos para isso. Mas há que se liberar os empreendedores das amarras da burocracia, dos equívocos ideológicos, das restrições fiscais e trabalhistas burras e das incompetências governamentais, mas também cobrar sua responsabilidade social e ambiental. Porém, é mais que urgente acabar com essa atávica demonização do lucro.
Evandro Milet
Consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente aos domingos
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