Quem imaginaria um professor de psicologia ganhando o Prêmio Nobel de economia? Pois aconteceu em 2002 com o professor de Princeton Daniel Kahneman com sua obra sobre os processos de tomada de decisões. No livro “Rápido e Devagar – duas formas de pensar”, ele desmistifica a ideia de que pessoas são capazes de avaliar racional e objetivamente as situações e escolher dentre várias alternativas a que lhes é mais vantajosa. Com a apresentação de muitas experiências, ele mostra que a nossa mente funciona de duas formas: uma rápida e intuitiva – o sistema 1 – e outra mais devagar, porém mais lógica e deliberativa – o sistema 2.
Normalmente é fácil e agradável andar e pensar ao mesmo tempo, e até fazer contas simples(Sistema 1) andando, mas em casos extremos essas atividades parecem competir pelos recursos limitados do sistema 2. Caminhando com um amigo, peça-lhe para calcular 23 x 78 de cabeça imediatamente. Ele quase com certeza vai parar de andar.
Na figura acima qual das três linhas é a maior? Responda e depois meça. Da mesma forma que somos iludidos por figuras que desafiam nossa percepção visual, também sofremos de ilusões cognitivas. Temos opiniões conflitantes sobre a mesma situação se os eventos forem apresentados em ordem diferente ou até em horários diferentes e preferimos muito mais uma carne que seja 90% livre de gordura do que uma que tenha 10% de gordura.
O efeito denominado ancoragem mostra a influência a que somos submetidos conforme a pergunta que nos é feita. Em um experimento com dois grupos separados foram feitas perguntas diferentes: a altura de uma sequoia é maior ou menor que 365 metros? e a altura de uma sequoia é maior ou menor que 55 metros. A média do grupo que respondeu à primeira pergunta foi 257 e do que respondeu a segunda foi 86. Isso dá uma ideia de como somos influenciados pela forma da pergunta e do que pode ser manipulado em uma pesquisa de opinião.
Kahneman estuda até onde a intuição de um especialista pode ser real; porque subestimamos prazos de projetos e porque avaliamos mal as probabilidades de um acontecimento, encarando algo dentro da normalidade como fato extraordinário. Por que é tão difícil para nós pensar estatisticamente?
Ele demonstra também que os humanos são incorrigivelmente inconsistentes em fazer julgamentos sumários de informações complexas. Tendemos a superestimar nossa compreensão do mundo e subestimar o papel do acaso.
Kahneman oferece métodos simples para combater os erros que cometemos de modo inconsciente. Por exemplo, quando de bom humor, as pessoas se tornam mais intuitivas e mais criativas, mas também menos vigilantes e mais propensas a cometer erros lógicos. Quando estamos desconfortáveis e infelizes, perdemos contato com nossa intuição.
Pessoas têm maior probabilidade de serem influenciadas por mensagens vazias persuasivas, como comerciais, quando estão cansadas e esgotadas.
Abordando heurísticas e vieses, o livro mostra que as pessoas tendem a estimar erroneamente a importância relativa das questões pela facilidade com que são puxadas da memória e que a sorte desempenha um grande papel em toda história de sucesso.
Porque o medo de perder é mais forte que o prazer de ganhar? O conceito de aversão à perda é certamente a contribuição mais significativa da psicologia à economia comportamental, que trata com muito mais precisão como investidores se comportam e que deu o Prêmio Nobel ao autor(dentro do mesmo tema Richard Thaler recebeu o prêmio em 2017).
Lendo esse livro fica a certeza que “probabilidade e estatística” é matéria fundamental para todas as profissões, pela repercussão nas atividades e decisões ao longo de toda a vida.
Publicado no Portal ES360 em 21/04/2024