Alguns discordam da política de cotas, sob alegação de que ela destrói a meritocracia. Mas então, por que multinacionais e grandes empresas nacionais fazem recrutamento dirigidos para negros ou público LGBTQI+? Por que buscam ampliar o número de mulheres nos conselhos de administração e nos cargos gerenciais?
O fato é que a diversidade traz diferentes visões para dentro das empresas, induzindo (ou forçando) a inovação. Além disso, visando melhor compreender e internalizar as necessidades dos clientes, cujo universo também é diversificado, têm buscado uma equivalência do perfil dos clientes com o perfil dos seus colaboradores.
As lutas identitárias cumprem sua função de renovar a consciência coletiva, à luz de grupos sociais que não mais aceitam passivamente uma histórica posição subalterna, clamando por seu lugar de fala. Movimentos como Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) reacendem e mantêm vivos debates essenciais, questionando a História. Isso porque, por exemplo, aqueles antigamente considerados “heróis”, atualmente têm suas estátuas derrubadas em praças públicas quando é reconhecido que sustentavam posições racistas.
Diversidade não é um problema só ideológico. É fator de competitividade. Quando em falta, é motivo para cancelamento de empresas e executivos.
A libertação dos escravos no Brasil não veio acompanhada por uma política de integração. Antigos escravos ou seus descendentes não tiveram acesso às escolas, nem à posse de terras como tiveram, por exemplo, os imigrantes. Consequentemente, a população negra, em sua maioria, segue marginalizada e vulnerável, seja como protagonista ou vítima, ao crime. Com metade da população brasileira fora do mercado, ou seja, sem participação expressiva no consumo, é lógico concluir um atraso no desenvolvimento do país.
Constata-se que políticas de ações afirmativas, como as cotas, têm possibilitado que a primeira pessoa de uma família consiga um diploma universitário. Além de benefícios financeiros diretos à vida dela e de sua família, se torna um exemplo aos demais de sua comunidade.
Não existe meritocracia se as pessoas não têm igualdade de oportunidades. Analogamente, muitos empresários lutam pela imposição de altas tarifas na importação de produtos estrangeiros, alegando que não conseguem competir em um ambiente de negócios desfavorável, com custo mais alto, altos impostos e burocracia paralisante. O reivindicado por esses empresários é a igualdade de oportunidades. Por que, nesse caso, não defendem também a meritocracia, ou seja, que a população deveria ter acesso aos produtos importados melhores e mais baratos? Discursos distintos, para problemas semelhantes.
O recente convite do Nubank à popstar Anitta para participação no seu Conselho de Administração escancarou a polêmica sobre diversidade e inclusão. Até recentemente, só eram admitidas para o posto “pessoas influentes” (leia-se homens brancos) e conhecidas dos sócios ou dos outros membros, com conhecimentos específicos em finanças. Isso padronizava e deixava tudo muito igual, um time de futebol com jogadores parecidos.
Mesmo que só tivesse Ronaldinhos ou Romários, um time tomaria muitos gols e dificilmente ganharia campeonatos. Quando se diversifica, dá para cada um ser bom em sua área e, em equipe, aumentarem seu grau de competitividade e crescimento.
E quem, antes do mundo digital, “influenciava”, já não influencia mais.
Diversidade é inovação e competitividade. Inovações não saem de dentro de bolhas. Por isso, cada empresa está procurando esse caminho. O Nubank apostou em Anitta, que além de empresária de sucesso, possui o principal ativo no mundo digital: a atenção e o engajamento do público. Conquistou isso demonstrando interesse, ou seja, se posicionando, sobre as questões que esse mesmo público considera importantes.
Só o tempo dirá se o Nubank acertou. Pela repercussão, já deve ter ganho muito. Afinal, cada um faz a tatuagem onde quiser.
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