Desenvolvimento municipal: do asfalto para a nuvem

Não adianta formar gente boa se não houver oportunidade de trabalho do mesmo nível. O conhecimento acumulado acaba desperdiçado em empregos que exigem menos do que foi aprendido. O Ifes está com 23 campi( e 13 incubadoras) e a Ufes com 4 pelo estado, além das instituições privadas, formando muita gente. Essas iniciativas devem estar acompanhadas de projetos de desenvolvimento local que gerem empregos com o nível necessário. De outro modo, esse pessoal acaba indo embora para a capital.

Sempre que se pensa em desenvolvimento dos municípios, a ideia é atrair indústrias ou, no máximo, uns galpões logísticos, se o município estiver bem localizado para essa finalidade.

Se puder atrair indústrias, ótimo, porém poucos dispõem das condições necessárias, e se essas indústrias forem apenas para produção sem as áreas de criação, de projetos ou de tecnologia, as ocupações ficarão restritas, embora gerem impostos e empregos em geral.

Quando listamos as empresas com maior valor de mercado no mundo vemos que entre elas não estão mais as indústrias que ocupavam tradicionalmente essas listas. O mundo digital ocupou quase todos os lugares. Essas empresas surgiram como startups, tirando mercado dessas empresas antigas ou seu lugar na lista. E qual é a característica dessas empresas? Elas não precisam mais de coisas físicas para abrigar a inteligência. Se o prédio da Google, da Amazon ou da Apple pegar fogo um dia, não será difícil recompor tudo rapidamente recuperando da nuvem o que estiver de inovação em desenvolvimento. Linhas de montagem e galpões logísticos são padronizados e recompostos sem grandes formulações.

E quais lições as cidades podem tirar disso? Em vez de atrair indústrias, quando isso for inviável – ou mesmo quando puder, nada contra – vamos gerar novas empresas que funcionem na nuvem, que empreguem pessoas locais, formadas nos campi do Ifes, da Ufes ou das instituições privadas na região, que não precisem de infraestruturas fantásticas, apenas computadores encomendados pelo correio. E isso acontece de fato. Vamos pegar o exemplo de uma empresa surgida desse modo em Baixo Guandu, a Frete Rápido, montando um marketplace de logística de transportes,  operando na nuvem, com pessoal local e egressos dos Ifes da região de Colatina, e prestando serviços em todo o país para grandes empresas como Nestlé e GM.

Tudo bem que ainda são poucos casos, porém sinaliza um novo caminho. Mas o que pensar quando sabemos, por exemplo, que em Alegre, juntando as instalações de Ufes e Ifes, temos quase 200 doutores formando gente?

E  o que os gestores municipais podem fazer para criar um ambiente que aproveite esse potencial? Podem seguir a ideia sugerida pelo José Antônio Buffon, secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação de Colatina, no artigo “O futuro de países, regiões e cidades está ligado à capacidade de inovação” ( https://bit.ly/3VycHDn). Com o valor de 1km de asfalto por ano, que qualquer prefeito consegue, poderia ser gerado um amplo programa de criação de startups e iniciação tecnológica e científica para alunos do ensino médio e fundamental, que mudariam a economia do município com o tempo. Os laboratórios maker necessários, que fiquem nas instituições de ensino, em parceria. Como ele diz, o novo desenvolvimento não precisa de placa de inauguração.

Interessante observar que o vírus da inovação já contaminou boa parte dos empresários e jovens das cidades médias capixabas. Hubs de inovação brotam em Linhares, São Mateus, Cachoeiro, Colatina e outras cidades, além de se espalharem pela própria região metropolitana, antes quase restritos à capital. Mas não precisam ficar restritos a essas cidades médias. Tem lugar para as pequenas na nuvem também.

A recomendação para inovadores, para que coloquem a cabeça na nuvem e os pés no chão poderia ser seguido também pelas pequenas cidades. É um novo tempo.

 

https://es360.com.br/desenvolvimento-municipal-do-asfalto-para-a-nuvem/

 

Publicado em 23/10/2022 no Portal ES360