De onde vem a água que eu bebo?

Segundo uma criança, viria da torneira. Segundo adultos esclarecidos vem normalmente de um rio, às vezes muito longe, mostrando ao mundo urbano a conexão e a dependência fundamental do mundo rural. É o que nos relembra o pesquisador Valmir Pedrosa, coordenador do livro Água: distintos olhares, com publicação patrocinada pela Arcelor Mittal. 

Afinal, ele pergunta: quantos litros de leite, quantas dúzias de ovos, quantos quilos de carne, são produzidos nas zonas urbanas? A vida urbana é possível porque há uma vida pujante que ocorre nas áreas rurais e nos garante os confortos e hábitos da vida moderna. E a água participa discretamente de todos esses processos.

Grande parte da água que abastece Salvador vem do Rio Paraguaçu, cuja porção central da bacia fica, paradoxalmente, em plena caatinga. Na Grande Fortaleza, parte da água vem da bacia do rio Jaguaribe, em pleno semiárido rural. Assim como grande parte da água das regiões metropolitanas do Rio e de São Paulo vem do Paraíba do Sul, bem fora da área urbana.

O atendimento das áreas urbanas é parte de uma série de disputas pela água que envolvem uso social local, pesca, turismo, mineração, indústria, aquicultura, irrigação, transporte fluvial e geração de energia, enquanto as bacias são afetadas por desmatamento, nascentes não preservadas, falta de saneamento nas cidades, expansão urbana não regularizada, uso inadequado de irrigação, ocupação predatória das margens, erosão e, claro, as mudanças climáticas.

Em 5 capítulos de vários autores, com olhares distintos que se completam, o livro traz um panorama variado sobre a importância da água no mundo, no Brasil e aqui entre nós, bem como o que tem sido feito para preservar a sua disponibilidade. 

João Bosco, Gerente Geral de Sustentabilidade da empresa, e um dos autores, conta essa história para o ES. Um dos mais importantes cursos de água do nosso estado, o Rio Santa Maria da Vitória, tem sua nascente na Serra do Garrafão, a cerca de 1.300 metros de altitude, no centro-oeste do estado e percorre 122 quilômetros até encontrar o mar na Baía de Vitória. A sua Bacia Hidrográfica abrange cinco municípios: Santa Maria de Jetibá, Santa Leopoldina, Cariacica, Serra e Vitória.

O Santa Maria teve papel relevante no estado desde a chegada de Vasco Coutinho em 1535, como fonte de água doce, fonte de alimentos com o manguezal e propiciando a instalação de engenhos e roçados nas suas margens. Serviu também como estrada para explorar o interior do estado, inclusive para permitir que os imigrantes europeus chegassem ao que são hoje os municípios de Santa Leopoldina e Santa Maria de Jetibá. Por esse caminho, D. Pedro II, na única visita que fez ao Espírito Santo, em 1860, foi vistoriar o desenvolvimento dos imigrantes na região.

No final da década de 1970, o Espírito Santo iniciou o seu salto de desenvolvimento com os Grandes Projetos Industriais, entre eles a Companhia Siderúrgica de Tubarão(CST), atualmente ArcelorMittal Tubarão, com sua natural demanda por recursos hídricos. O aproveitamento da água do mar para resfriar equipamentos reduziu em 95% a quantidade de água doce necessária para sua operação. A recirculação e o reúso de água permitiram que a empresa mais que dobrasse a sua produção, a partir de 2007, sem precisar aumentar o volume de água captado do sistema público.

Os Comitês de Bacia Hidrográfica passaram a ser centrais na gestão da água nos primeiros anos do novo milênio aqui e em todo o país, unindo representantes da sociedade civil, governos e usuários, arranjo institucional fundamental, inclusive para administrar as crises relativas à situação hídrica ocorridas no estado a partir de 2013. 

A prioridade natural ao uso da água para consumo humano e de animais provocou uma mobilização das indústrias para redução do consumo. No caso da ArcelorMittal mais de 300 sugestões de empregados foram implantadas na empresa incluindo novas aplicações de água de reúso nas pilhas de matérias-primas e eliminação de vazamentos, entre outras, resultando em uma redução no consumo de 39%.

No final de 2021, cinco novos projetos inovadores tiveram início na empresa: Recuperação de nascentes; a maior e mais moderna planta de dessalinização de água do mar do país; Procedimento de Manifestação de Interesse(PMI) com a Cesan para relocalização da estação de esgoto de Camburi para área da ArcelorMittal, com a compra mensal de 540 m³/h de água de reúso; plataforma digital para um Observatório de Águas, monitorando a situação hídrica do estado; e um app para smartphone para acompanhar em tempo real a disponibilidade hídrica do Rio Santa Maria da Vitória. 

Leitura esclarecedora. Água é ESG, água é pop, água é tech, água é tudo.

 

https://www.agazeta.com.br/colunas/evandro-milet/de-onde-vem-a-agua-que-eu-bebo-0622

 

Publicado em A Gazeta 25/06/2022