O recente processo de concessão de aeroportos provocou críticas nas redes sociais que mostram o desconhecimento de métodos de avaliação de empresas e estratégias de maximizar resultados. Alguns argumentaram que o governo investiu um valor maior do que foi pago pelos vencedores, como teria acontecido no aeroporto de Vitória. Porém, na avaliação não entram na conta os chamados custos afundados, isto é, o que foi gasto até aquele momento, mas sim o que pode ser gerado de lucro daí para a frente. Se custos passados tivessem de entrar na conta, a Petrobras nunca conseguiria vender a refinaria de Pasadena, comprada por um preço muito maior do que valia. E muito menos a refinaria Abreu e Lima em Pernambuco, orçada em US$ 2 bi e onde foram gastos US$ 20 bi, num dos maiores escândalos do governo petista, envolvendo corrupção, incompetência e decisões desastradas.
Outra crítica falava em preços base irrisórios na avaliação feita. É estratégico nesses processos não colocar um preço alto para não desestimular concorrentes. Muita gente participando pode maximizar o resultado, como no caso onde houve disputa de viva voz entre as 3 melhores propostas nos envelopes abertos, com ágios altíssimos. E os ganhadores se comprometem com grandes investimentos ao longo de 30 anos.
Outra dúvida mais primária confunde privatização com concessão. No primeiro caso a empresa é típica do setor privado e é simplesmente passada para investidores que vão administrá-la sem participação do governo. Nas concessões, os investidores administram o empreendimento com regulação e fiscalização das agências governamentais por um período determinado, com possibilidade da concessão ser retomada em caso de não cumprimento de cláusulas. Se há deficiência de fiscalização, a culpa não é do modelo, que funciona muito bem em muitos países, mas sim do aparelhamento e corrupção nas agências, prática bastante usual em governos recentes.
Em outra crítica, questionava-se o fato da empresa estatal espanhola Aena ter ganho a concessão do bloco nordeste. Nesse caso, alegava-se, era melhor manter no comando uma estatal brasileira, a Infraero. As estatais brasileiras têm problemas sérios de administração por indicações políticas incompetentes, impossibilidade na prática de demitir pessoas e dificuldades imensas para contratar produtos e serviços. O endurecimento da fiscalização tem amarrado muito mais as empresas estatais. A Aena segue outras regras, ganhou de empresas privadas e terá que operar como tal para não ter prejuízo. O processo de concessão dos aeroportos foi um evidente sucesso.
Sobre o autor: Evandro Milet é consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente sobre inovação e negócios.
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