Conceitos confusos

Os conceitos de progressista e conservador estão bastante embaralhados hoje. Como chamar de progressista, como alguns ainda querem, o chavismo na Venezuela que, justificado pela derrubada de uma oligarquia atrasada pratica uma política de destruição das instituições, cuja perenidade é entendida hoje como o maior fator de diferenciação dos países que deram certo daqueles que fracassaram? Como classificar de conservadora uma política que liquidou a inflação e deu um dos maiores saltos na renda dos brasileiros? Como pode ser progressista um sistema sindical corporativista, financiado com verbas compulsórias e adversárias da meritocracia como instituição? Como chamar de conservadora uma política de concessões de serviços públicos sabendo da ineficiência burocrática de qualquer governo? Como não classificar como conservadora a postura ideológica que ainda prevalece em cabeças atrasadas nas universidades que não aceitam a aproximação com empresas? São progressistas greves que prejudicam a vida dos cidadãos nas grandes cidades? Também não se pode demonizar como conservador um agronegócio baseado em inovações espetaculares e maior responsável pelo enaltecido nível das nossas reservas cambiais.

Por outro lado, embora alguns ainda neguem, políticas de transferência de renda que permitiram um salto na distribuição de renda pessoal e regional do país e tiraram milhões da miséria são progressistas sim e grande número de economistas de várias tendências já reconhecem.

Desde a queda do muro de Berlim e a derrocada das experiências ditas socialistas, a auto proclamada esquerda quer praticar um capitalismo envergonhado aceitando privatizações e concessões disfarçadamente, porém insistindo no aumento do gasto público como se a economia fosse mais bem dirigida pela atuação direta do Estado. Fico com Schumpeter para quem “ A evolução capitalista significa perturbação.O capitalismo é essencialmente um processo de mudança econômica endógena. Na ausência de mudança  a sociedade capitalista não pode existir… Por isto deve haver constante mudança vinda de dentro… Neste sentido, o capitalismo estabilizado é uma contradição em termos”.

Vamos assumir essa transformação progressiva do capitalismo para mais justiça social, aceitar a redução da participação estatal no limite da eficiência na regulação e fiscalização e na ação própria de Estado e uma ênfase no empreendedorismo e na evolução do ambiente de negócios. Vamos dar o nome certo aos bois. Chega de atraso, ou melhor, de conservadorismo. Sejamos progressistas de fato.

Evandro Milet

  Consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente aos domingos

Twitter: @ebmilet     Email: evandro.milet@gmail.com

 

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